
No mês em que o hip-hop celebra 52 anos, o Cine Metrópolis, na Universidade Federal do Espírito do Santo (Ufes), recebe a primeira sessão pública de “Onde Está Zumbi?”, na próxima terça-feira (26), às 19 horas, com entrada gratuita. O documentário, de 53 minutos, reconstrói o processo de criação do LP “Tributo a Zumbi” (1996), primeiro registro fonográfico do rap capixaba.
A produção conta com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital nº 14/2022 — Produção Audiovisual no Estado, da Secretaria da Cultura (Secult).

A obra conduz o espectador aos anos 1990, quando a cultura hip-hop se consolidava como linguagem de resistência em um Espírito Santo marcado pela violência urbana, pelo racismo e pela ausência de políticas culturais voltadas à juventude periférica. É nesse cenário que a Ladeira São Bento, no Centro de Vitória, surge como ponto de encontro de artistas e militantes — um espaço que funcionou como um verdadeiro quilombo urbano.
Os artistas Brau, Tropeço, Sagaz e Renegrado Jorge durante as gravações do LP
Pandora Da Luz, articuladora de encontros no local, rememora: “A Ladeira São Bento representava um espaço de força e abrigo. Estar ali era como ter um quilombo no meio da cidade — um lugar para formar pensamento, criar e se reconhecer.”
Dessa convivência surgiram vínculos que conectam diferentes grupos e deram origem à ideia de gravar um disco coletivo. O filme reúne vozes de quem viveu esse processo. Renegrado Jorge, um dos articuladores do projeto, lembra que gravar era caro e exigia precisão: “A gente tinha que ir para o estúdio ensaiado, nervoso, porque o dinheiro não dava para errar. O vinil ficou com falhas, mas era o máximo que a gente conseguia para a época.”
Sagaz, integrante do Suspeitos na Mira, reforça o valor simbólico do formato: “Lançamos o LP no auge do CD. Para nós, a cultura do vinil é um relicário. Não abríamos mão disso.”
Zumba, do Negritude Ativa, destaca o impacto político da faixa Ideologia do Gueto: “Ela me fortaleceu no meu pensamento, na minha ideologia. É nós por nós mesmo. ” Já GL Preto, parceiro de Zumba no grupo, observa que a experiência marcou a cena local: “O disco se tornou um marco histórico para o hip-hop do Espírito Santo. Pouquíssimas pessoas têm acesso a ele hoje.”
A gravação
O LP reuniu oito grupos — Negritude Ativa, Tropa de Zumbi, Conceito Feminino, Mano Jeff & DJ Edy, DJ Criolo & Renegrado Jorge, Suspeitos na Mira, Observadores e Radicais Livres — gravados em estúdios improvisados e com equipamentos como o teclado Roland W-30, que integrava sampler e sequenciador. Com poucos segundos de memória para cada amostra, exigia soluções criativas e montagem manual das batidas, tornando cada faixa um exercício de engenhosidade coletiva. As letras abordam racismo, violência policial, desigualdade social e afirmação da identidade negra.
Para o diretor Luiz Eduardo Neves, o filme vai além do registro. “É um filme sobre a necessidade de lembrar. Tributo a Zumbi documenta um momento em que o hip-hop se inscreveu de forma definitiva na história cultural do Estado. Um registro que conecta passado e presente, reafirmando que as batidas e vozes daquele vinil ainda reverberam nas ruas”, diz.
Mais que reconstruir um disco, Onde Está Zumbi? documenta um momento em que o hip-hop se inscreveu de forma definitiva na história cultural do Estado — um registro que conecta passado e presente, reafirmando que as batidas e vozes daquele vinil ainda reverberam nas ruas e segue iluminando os caminhos de uma cultura que completa 52 anos.
FONTE : SECULT