Foto: Pinterest -

Raymond E. Brown, padre e doutor em literatura bíblica, recomendado pelo Papa Paulo VI por sua erudição, prudência e respeito católico pelo Magistério da Igreja, escreveu o livro “Recent discoveries and the Biblical world” que traz importantes descobertas arqueológicas que esclarecem ou apoiam os textos do Antigo Testamento e que apresento a seguir.


Em Nuzi, cidade próxima ao rio Tigre, foram escavadas no final dos anos 1920 cinco mil tabuinhas cuneiformes escritas em acadiano, dos hurritas não semitas (os horitas e heveus bíblicos). Nuzi estava em uma província do Império Mitani, nos séculos XVI e XV a.C., e rivalizava com o Egito.


As tabuinhas de Nuzi revelaram que as práticas dos patriarcas eram comuns nessa região. As imagens dos deuses domésticos eram símbolos importantes da unidade familiar e geralmente passavam para o herdeiro principal. Torna compreensível a tentativa de Raquel de se apropriar dos deuses domésticos de seu pai Labão (Gn 31,19,30).


Também era costume em Nuzi que pessoas sem filhos adotassem alguém como filho para servi-las enquanto vivessem e enterrá-las após a morte; mas entendia-se que, se eventualmente tivessem um filho natural, este se tornaria o herdeiro. É a situação de Abraão, que adotou o escravo Eliezer como herdeiro (Gn 15,2-3), substituído depois por Isaque e Ismael.


Também era esperado de uma esposa rica de Nuzi que não gerasse um filho fornecesse ao marido uma concubina escrava, cujos filhos seriam considerados da esposa (conforme Gn 16,2). As atribuições de herança no leito de morte em Nuzi, explica a história da luta de Jacó e Esaú pela primogenitura (Gn 27,1).


Na ilha de Elefantina, no Nilo (próximo de Assuã, 160 km ao sul de Tebas), havia uma colônia de hebreus. A origem dessa colônia provavelmente antecedeu a invasão persa do Egito (525 a.C.), e foi encerrada por volta de 399 a.C., ou seja, não tem como José, Maria e Jesus terem ido para essa colônia, como sugerem alguns.


Os papiros, encontrados no final do século XIX e publicados em diferentes lotes ao longo do século XX, são em grande parte textos legais e contratos, mas também há cartas que refletem a história bíblica. Esses hebreus tinham um templo para o Deus YHW (Yahu/Yaho) que foi destruído em 410 a.C. por instigação de sacerdotes egípcios hostis. Consequentemente, os hebreus de Elefantina escreveram a Bagoas, governador da Judeia, pedindo ajuda.


Os nomes de Sambalate e do sumo sacerdote Joanã aparecem nessa correspondência, lançando luz sobre informações em Neemias 12,22 e sobre a datação do bíblico Esdras. Esses nomes, combinados com os encontrados nos papiros de Samaria, nos dão uma sequência de notáveis judeus nos séculos V e IV a.C.


Evidentemente, o pedido de ajuda foi bem-sucedido, e o templo foi reconstruído, pelo menos por um curto período. A religião em Elefantina, praticada longe de Jerusalém e dos principais centros judaicos, parece ter sofrido considerável influência externa, a ponto de postular uma consorte feminina para YHW.
O livro do Padre Brown ainda tem muitas outras que pretendo abordar no futuro.

Arqueologia bíblica, Antigo Testamento, Raymond E. Brown, descobertas arqueológicas, Nuzi, Elefantina, Bíblia e história, cultura judaica, Padre Brown.