De Vitória a Caracas: Bracarense cutuca o MST

Quando um vereador municipal decide cutucar o vespeiro da geopolítica ideológica

O vereador de Vitória, Dárcio Bracarense (PL), decidiu mirar alto: entrou com representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra as brigadas do MST que atuam na Venezuela. Não se trata de buraco na rua, iluminação pública ou transporte coletivo, pautas comuns de uma Câmara Municipal. Bracarense escolheu uma rota bem mais explosiva: cutucar o MST, um dos símbolos da esquerda brasileira, e de quebra o regime de Nicolás Maduro, ícone do autoritarismo latino-americano.

O movimento não é jurídico apenas; é político até a medula. Como vereador, Bracarense sabe que não vai resolver a política externa do Brasil. Mas o gesto projeta seu nome para além da Praça Oito. Ele entra em cena como quem grita: “Estou no jogo nacional, não apenas no municipalismo miúdo”.

E convenhamos: é uma jogada de risco calculado. Atacar o MST, ainda mais quando vinculado ao chavismo venezuelano, é um prato cheio para a plateia conservadora e antipetista. É um atalho para ganhar manchetes, entrar em debates maiores e marcar posição contra o que ele considera uma “militância transnacional”.

O ponto levantado pelo vereador toca numa ferida incômoda: afinal, qual é a função real do MST? Defender reforma agrária dentro do Brasil ou atuar como embaixada ideológica de regimes aliados? Para seus defensores, é solidariedade internacional. Para seus críticos, é aparelhamento político disfarçado de movimento social.

Ao provocar a PGR, Bracarense faz a pergunta em voz alta e obriga o Ministério Público a responder, ainda que seja com o silêncio de um arquivamento.

É claro que muita gente vai tachar o vereador de “palanqueiro”, de “forçar a barra” ao transformar a Câmara de Vitória num trampolim para disputas nacionais. Mas, se o objetivo era provocar, conseguiu. E provocação, na política, muitas vezes rende mais do que um projeto de lei esquecido em gaveta.

Bracarense sabe que cutucar o MST é mexer num vespeiro protegido por narrativas históricas e blindagens políticas. Ao mesmo tempo, sabe que parte da sociedade aplaude de pé quem tem coragem de enfrentar o “intocável”.

O vereador transformou um ato administrativo em ato político. Um tiro dado de Vitória em direção a Brasília e, simbolicamente, até Caracas. Pode até não derrubar Maduro, nem desmontar as brigadas do MST. Mas já o colocou no radar de quem gosta de ver briga grande.