“Dado a satanás”: pais ignoram filho há 30 anos após ele deixar igreja

O homem decidiu deixar de ser testemunha de Jeová quando tinha 22 anos e, desde então, nunca mais teve contato com os pais, que o excluíram

- Arte/Metrópoles

Conforme a coluna noticia relatos de pessoas que se dizem “vítimas de Testemunhas de Jeová”, mais denúncias surgem acerca do grupo religioso cristão.

Rígido, o movimento não hesita em punir aqueles que decidem se desvencilhar da doutrina — nem mesmo se isso incluir invisibilizar, para sempre, alguém sangue do seu sangue.

Aos 50 anos, Clever Davi Mendonça carrega a angústia de ter sido completamente afastado de sua família. Há cerca de 28 anos, quando decidiu deixar de se considerar um “testemunha de Jeová”, ele ouviu de seus pais que a partir dali era uma “alma morta em vida” e nunca mais teve os genitores ao seu lado.

O ódio foi passado às gerações que o sucederam. Os quatro filhos e três netos de Clever são considerados inexistentes pelos seus pais. Jamais tiveram contato. Jamais conheceram os avós/bisavós.

“Vida anulada”

Quando Clever nasceu foi automaticamente inserido na doutrina. Seus pais já eram Testemunhas de Jeová.

“Assim como muitos, eu, infelizmente, tive a infelicidade de ter o caminho cruzado por essa seita; toda a vida dos meus pais girava em torno dessa seita”, declarou.

Conforme foi crescendo, Davi passou a ser crítico. Não entendia a ideia de que Jeová mataria todo mundo que não concorda com ele. “Isso não faz dele um Deus de amor, e sim um ditador”, refletiu.

Por volta dos 23 anos foi, então, desassociado — o que ele define como prática discriminatória que exclui a pessoa do convívio social e familiar.

“São 28 anos sem ter convívio com a minha família. Eles me definem como apóstata (pessoa considerada opositora aos testemunhas de Jeová). Todo e qualquer contato foi excluído, porque, segundo eles, fui entregue a Satanás.”

Para os pais de Clever, ele está morto em vida e o abandono atingiu seus filhos. “Eles são totalmente revoltados por causa dessa seita. Isso porque, segundo a religião, meus filhos são bastardos espiritualmente e vão morrer na guerra do Armagedom, o que seria para eles o fim do mundo e o começo do paraíso na terra”, explicou.

Clever descreve a situação como “abandono afetivo motivado por intolerância religiosa”. Além disso, ele revelou que há intensa manipulação para tentar levar as pessoas desassociadas de volta à religião.

“Minha tia, irmã gêmea da minha mãe, recentemente resolveu voltar a ser testemunha de Jeová. Elas não se falavam há 30 anos. Não aguentando mais viver longe da sua irmã gêmea, minha tia resolveu voltar, mesmo que de fachada, apenas para ter contato com a família”, lamentou.

“Por mais absurda, bizarra que seja essa doutrina, ela tem destruído famílias ao redor do mundo. Afasta pessoas do convívio e se ela quiser voltar a fazer parte da família, tem que voltar a ser Testemunha de Jeová”, disse.

FONTE: METROPOLES