Por Artigo de Opinião

Jacqueline Caixeta é supervisora pedagógica e palestrante

Passeando por escritas, palestras, discussões no meio acadêmico, tenho ouvido bastante que nossas crianças e adolescentes estão muito conectados com o mundo. Que eles nunca tiveram tanto acesso a informação como agora. Que sabem de tudo e que o livre acesso à internet tem feito dessa geração uma geração bastante conectada com o mundo.

As pessoas acham que o fato de crianças e adolescentes terem as informações na palma das mãos faz delas seres conectados e inteligentes. Questiono o que chamam de “conectados” e, mais ainda, o que pensam sobre inteligência.

Mundo fantasioso

Estar conectado com o mundo é a maior mentira que já ouvi. Na verdade, o que muitos adolescentes estão é conectados com o mundo irreal do TikTok e do Instagram, no qual todo mundo é lindo, magro, rico, feliz, engraçado, divertido, e os perigos não existem. Nossas crianças e adolescentes são, na verdade, vítimas das redes sociais que vendem imagens de um mundo fantasioso.

As atitudes de adolescentes provam isso. Eles cometem “brincadeiras” sem a menor noção dos perigos. Fazem por fazer, por diversão imediata, pelo simples prazer de aparecer, de se destacar para um grupo. São atitudes idiotas e impensadas que nada dizem de inteligência, e sim de uma falta de noção tremenda. São verdadeiros sem noção no sentido real da frase. São frutos de vídeos idiotas que reproduzem.

Não há análise crítica alguma sobre suas brincadeiras “divertidas”, o que vale é a risada e a adrenalina de correr um risco. Essa necessidade de aparecer e de ter adrenalina correndo riscos nada mais é do que um grito de socorro. Um grito de pedido de educação e limite. 

Pais

Eles estão soltos, livres e se jogam no mundo das aventuras para chamar a atenção dos pais. Pais que, muitas vezes, adoram acreditar que são apenas crianças e adolescentes experimentando a vida. Vivendo e usufruindo de suas liberdades, dizendo que eles têm o direito de se divertir, mesmo que isso seja à custa da vida de outra pessoa.

O mundo com o qual se acham conectados é totalmente desvinculado da realidade. Eles querem viver o que assistem nos vídeos divertidos e colocar em prática. Só isso. E apenas para se divertir.

O mundo real, cheio de perigos e consequências, fica a quilômetros de distância. Eles só param para pensar nas consequências de suas inconsequentes atitudes depois que fazem. Mesmo assim, se alguém esfregar na cara deles os riscos, ainda acham que é exagero de adulto chato, adulto que quer impor limites.

O mundo é muito maior do que as delícias e diversões das redes sociais, e estamos lidando com uma geração que não é convidada a conhecer o mundo real. Por medo de se frustrar? Por medo de descobrir que o mundo não é lindo e sem maldades? Por medo de saber que todos os seus atos terão consequências?

Idolatria da idiotice

É a idolatria da idiotice. Estamos assistindo, de braços cruzados, a nossas crianças e adolescentes entrando em uma era da imbecilidade, e ainda achamos graça. E, muitas vezes, pais e até educadores acham engraçadas as idiotices que dominam os bate-papos virtuais e saltam das telas para a vida real. Uma pena. De fato, é uma pena perceber uma geração tão regada a pouca inteligência, tão desprovida de caráter, ética e respeito pelo outro. Tão conectada com um mundo idiota, e ainda reinando a imbecilidade.

O mundo real não está sendo apresentado às crianças e aos adolescentes. Estar conectado atualmente diz apenas de um mundo de faz de contas que só engole essa geração e a deixa cada vez mais apedeuta.

É mentira, é pura mentira, que nossas crianças e adolescentes estão conectados com o mundo. Eles não têm a menor noção do que é o mundo de verdade. Eles não sabem o que acontece no mundo real; pouco ou nada sabem de política, ética, sociedade, economia, ecologia, saúde pública, enfim. São fantoches nas mãos de bilionários, que só enriquecem com esse monte de marionete nas redes sociais.

Relações saudáveis

Eles não conseguem nem sequer ter relações sociais saudáveis, aquelas em que os olhares se conectam, as palavras são degustadas e o toque de um abraço acolhe. Eles mantêm suas relações sociais escondidos atrás das telas. Que coisa mais triste. E ainda querem me convencer de que estão conectados com o mundo.

Não, não estão conectados com o mundo, porque o mundo é muito maior deste que eles seguem nas redes sociais. O mundo de verdade não é mostrado nas telas que eles seguem. Estão sendo enganados e engolidos por um mundo de faz de contas em que não é preciso pensar, analisar ou criar – basta seguir um idiota qualquer e tentar reproduzir o que ele faz.

FONTE: O TEMPO