Colatina terá o seu 1° Festival de Jazz e Blues

O evento é uma iniciativa do Coletivo SHIVA – Serviço Humanitário Informação Vida e Arte, com produção do artista e agitador cultural Laerti Mohamed.

A cidade de Colatina aguarda um momento inédito no calendário cultural: o primeiro Festival de Jazz e Blues, que será realizado no próximo dia 10 de maio, a partir das 17 horas, na rampa do Centro de Ciências. O evento é uma iniciativa do Coletivo SHIVA – Serviço Humanitário Informação Vida e Arte, com produção do artista e agitador cultural Laerti Mohamed.

Mais do que apresentar dois dos gêneros musicais mais importantes da história — o jazz e o blues —, o festival marca o início de uma nova fase de ocupação cultural em espaços públicos de Colatina. Pela primeira vez, o Centro de Ciências, tradicionalmente voltado ao saber científico, será palco de uma atividade artística, unindo música, arte e formação cidadã em um mesmo ambiente.

O evento é gratuito e aberto a toda a comunidade, com uma proposta que valoriza a convivência familiar, a presença de jovens e o contato com expressões culturais que muitas vezes não fazem parte da rotina da cidade. Além de celebrar a música instrumental e a improvisação — características marcantes do jazz e do blues — o festival também busca fortalecer o pensamento crítico e o acesso democrático à cultura.

Segundo os organizadores, o objetivo é oferecer uma experiência sonora e social enriquecedora, promovendo o encontro entre diferentes gerações e formas de expressão.

Do Mississipi ao Brasil

Dois dos gêneros musicais mais influentes da história — o jazz e o blues — nasceram nos Estados Unidos, em meio à dor, à resistência e à criatividade da população negra americana. Mas, ao atravessarem fronteiras, ambos encontraram no Brasil um terreno fértil para novas interpretações, fusões e públicos apaixonados. Embora nunca tenham ocupado os palcos da música de massa como o samba ou a MPB, jazz e blues deixaram marcas profundas na cena musical brasileira, da bossa nova à cena instrumental contemporânea.

O blues surgiu no final do século XIX, no sul dos Estados Unidos, como uma forma de expressão emocional e espiritual dos afro-americanos. Já o jazz nasceu pouco depois, em Nova Orleans, como uma mescla entre o blues, o ragtime e elementos da música europeia e africana. Ambos os gêneros chegaram ao Brasil por meio de discos importados, filmes norte-americanos e, principalmente, pelas rádios nas décadas de 1930 e 1940.

A influência foi imediata entre músicos eruditos, boêmios e artistas da zona sul carioca. O jazz, em especial, encontrou eco em instrumentistas brasileiros que viam na improvisação e na harmonia sofisticada um terreno rico para experimentações.

Nos anos 1950, a bossa nova, surgida no Rio de Janeiro, tornou-se a mais notável fusão entre o jazz e a música brasileira. Com João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes à frente do movimento, a bossa absorveu a sofisticação harmônica do jazz e a suavidade do canto falado. Não por acaso, foi esse gênero que abriu as portas do Brasil para o mercado internacional — especialmente nos Estados Unidos.

Em 1962, o histórico concerto da bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, consagrou a conexão Brasil–jazz. Músicos como Stan Getz e Ella Fitzgerald se encantaram pela música brasileira, e gravações como “The Girl from Ipanema” se tornaram clássicos mundiais.

Embora com menos projeção comercial, o blues também encontrou um nicho fiel no Brasil. A partir dos anos 1980, com o surgimento de clubes, festivais e bandas dedicadas ao gênero, o país viu nascer nomes como André Christovam, Celso Blues Boy e Nuno Mindelis, que ajudaram a moldar a “cena blueseira” nacional.

Com letras em português ou inglês, e temas que dialogam com a realidade urbana brasileira — como a solidão, o desemprego ou o amor perdido — o blues brasileiro é, ao mesmo tempo, fiel à raiz e adaptado ao seu tempo e lugar.

Festivais e renascimento

Nas últimas duas décadas, o jazz e o blues ganharam fôlego com a expansão dos festivais temáticos. Cidades como Rio das Ostras (RJ), Caxias do Sul (RS), Garanhuns (PE) e Ouro Preto (MG) passaram a sediar eventos anuais que atraem multidões e fomentam a cena instrumental. A internet também teve papel fundamental na formação de novos públicos, ajudando artistas independentes a alcançarem ouvintes em todo o país.

Hoje, o jazz e o blues seguem vivos e em transformação no Brasil — longe do mainstream, mas com uma comunidade apaixonada, criativa e em constante renovação.

FONTE: ES FALA