Chorões e choronas se reúnem em Vitória (ES)

Músicos trocarão vivências para aperfeiçoar os processos técnicos e criativos em aulas individuais e coletivas, criarão um repertório e montarão rodas de choro para interação com o público.

 A capital capixaba será o centro de atenção de músicos, estudantes de música e apreciadores de uma das mais antigas e populares expressões da cultura musical brasileira, o choro. De 11 a 20 de agosto, Vitória sediará a Fabrik de Choro, um projeto musical e cultural itinerante de fortalecimento do choro como patrimônio cultural brasileiro, valorizando-o no Brasil e no exterior. O encontro tem por objetivo promover a troca de experiências entre músicos brasileiros e estrangeiros, com foco na criação de repertórios colaborativos e no aprendizado técnico e criativo.

A programação é composta por atividades voltadas para músicos inscritos e outras para a comunidade em geral. Com entrada gratuita, o concerto de abertura acontecerá no dia 11 de agosto, a partir das 18h30, na sede do Instituto Marlin Azul. O concerto de encerramento acontecerá no dia 20 de agosto, no Teatro da Ufes, e também será aberto à comunidade.

As aulas coletivas ou individuais voltadas para grupos inscritos serão realizadas de segunda a sexta-feira, das 10 às 12h, e das 14 às 17h, no Instituto Marlin Azul. A turma reunirá profissionais do piano, violão de 6 cordas, violão de 7 cordas, bandolim, flauta, pandeiro e percussão, clarinete, dentre outras áreas instrumentais. Os residentes estudarão assuntos como a linguagem, o ritmo, a harmonia, os arranjos, as fusões, a montagem e a finalização de uma composição de choro, farão pesquisas de partituras de compositores nacionais e locais e ainda participarão de práticas de conjunto.

Crédito de foto: Divulgação – Fabrik do Choro 

A ideia é partilhar vivências na área da criação e da produção musical direcionadas ao universo do choro conhecido por sua força histórica, versatilidade, diversidade, originalidade e capacidade de se reinventar e elaborar um repertório para ser apresentado ao público ao final do evento. As trocas e os aprendizados entre os músicos serão compartilhados com a comunidade nas rodas de choro organizadas em diferentes pontos da cidade durante apresentações abertas e gratuitas. Acompanhe a programação através do https://www.instagram.com/institutomarlinazul/.

A Fabrik de Choro será realizada em Vitória (ES) pela primeira vez. As edições anteriores aconteceram em Belo Horizonte (MG) e em Curitiba (PR). A direção artística e a coordenação internacional do projeto é de Maria Inês Guimarães, diretora do Club du Choro de Paris e do Centro Euro-brasileiro de Música (Cebramusik), associação criada em 1996 para promover o intercâmbio musical entre o Brasil e a Europa. Pianista, saxofonista, compositora, doutora em Musicologia pela Sorbonne Paris IV, ela é professora titular de piano, improvisação livre e da oficina de choro no Conservatório de Antony-Grand Paris, na França. Em Vitória, o evento tem a coordenação geral de Fabiano Araújo Costa, doutor em Música e Musicologia pela Universidade Paris-Sorbonne, professor de Harmonia e Musicologia Transcultural e da pós-graduação em Interartes e Novas Mídias, da Universidade Federal do Espírito Santo, e de Processos Criativos em Música na UNIRIO.

Conheça os professores residentes

Maria Inês Guimarães (Idealização/coordenação/direção artística internacional) – Idealizadora e diretora do projeto Fabrik de Choro, Maria Inês é pianista, saxofonista, compositora, doutora em Musicologia pela Sorbonne Paris IV, e pedagoga. Diretora do Centro Euro-brasileiro de Música (Cebramusik) e do Club du Choro de Paris, é professora titular de piano, improvisação livre e oficina de Choro no Conservatório de Antony-Grand Paris, França. Com 14 CDs gravados e composições publicadas na Europa e na América Latina, ela tem uma ação perene na divulgação da música instrumental brasileira clássica e do choro.

Fabiano Araújo (Coordenação e direção artística) – Doutor em Música e Musicologia pela Universidade Paris-Sorbonne, professor de Harmonia e Musicologia Transcultural na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Atua na pós-graduação em Interartes e Novas Mídias da Ufes e em Processos Criativos em Música na UNIRIO. Natural de Vitória, Fabiano gravou os álbuns: “O Aleph” (2006), com músicas autorais escritas para sexteto; “Calendário do Som – 9 dias” (2009), com música de Hermeto Pascoal; “Rheomusi” (2011), em trio com o contrabaixista norueguês Arild Andersen e com o saudoso percussionista brasileiro Naná Vasconcelos; “Baobab Trio” (2012) e “Ladeira” (2019). Seu último álbum, “Mar que Arrebenta”, gravado em 2023, conta com a participação do saxofonista e flautista brasileiro Mauro Senise.

Luciano Furtado (Violão 6 e 7 cordas) – Bacharel em violão erudito pela Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), é violonista de 7 cordas com atuação voltada à música instrumental brasileira, especialmente ao choro, ao samba e à bossa nova. É integrante do duo “HeptaSopro”, dedicado ao repertório instrumental brasileiro, com dois álbuns lançados: “HeptaSopro” (2019) e “HeptaSopro convida Léo de Paula” (2024). Além da atuação como violonista, desenvolveu trabalho pedagógico como co-coordenador do projeto “Choro na Ufes”, orientado pelo Prof. Dr. Victor Neves de Souza, no qual o choro é utilizado como ferramenta para o ensino de teoria e prática musical. Sua trajetória une a tradição do violão brasileiro à busca por novas sonoridades e diálogos musicais.

Nelson Gonçalves (Violão 7 cordas) – Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP/UFES. Tem licenciatura em Educação Artística-Habilitação em Música pelo Conservatório Brasileiro de Música – RJ.Desde 1992 éprofessor de Práticas de Atividades Culturais de Violão da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames).Recebeu prêmios como compositor em festivais regionais e nacionais no âmbito da música erudita e popular. É membro fundador do Grupo de Choro “Carne de Gato”, atuando como violonista (violão 7 cordas).Luthier de Violão Clássico e de Violão de Cordas de Aço e Violão 7 Cordas com o renomado professor, luthier e violonista John Bogdanovich, em 2017.

Matheus Viana (Flauta, arranjo e composição) – Mestre em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveu sua pesquisa de mestrado sobre a interação entre músicos na performance improvisada. Como flautista, arranjador e compositor, integra o duo “HeptaSopro” ao lado do violonista de 7 cordas Luciano Furtado, com foco na música instrumental brasileira. Entre suas produções destacam-se o EP “HeptaSopro” (2019); os singles “Pro Malta” e “Pro Luciano” (2019 e 2020); e o álbum “HeptaSopro Convida Léo de Paula” (2024), com 12 faixas autorais e a participação especial de Léo de Paula.

Suas influências abrangem artistas como Tom Jobim, Pixinguinha, Hamilton de Holanda e Hermeto Pascoal, refletindo um estilo que combina elementos do choro, do jazz e da música brasileira contemporânea. Participou de festivais como Festival de Música de Santa Catarina (Femusc – 2018), Festival de Inverno de Domingos Martins (2014-2018) e Festival Internacional Sesc de Música de Pelotas (2019, 2020 e 2025). Também atua como educador no Centro de Referência das Juventudes (CRJ – Novo Horizonte).

Edu Szajnbrum (Percussão, bateria) – Baterista, percussionista e professor carioca residente em Vitória, já colaborou com artistas como Clara Sandroni, Marisa Monte, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhoto, Lenine, e Guinga, além de diversos outros nomes da música nacional. No Espírito Santo, integra o “Baobab Trio” ao lado de Fabiano Araújo e Wanderson Lopez.É Mestre pelo Proemus/UNIRIO (2018) com o projeto “O Moderno Pandeiro Brasileiro”.

Bacharel em Música Popular com foco em bateria pela FAMES, Edu já conduziu palestras e cursos sobre percussão brasileira, incluindo sua participação em Bogotá (2024) no Leitorado Guimarães Rosa, a convite da embaixada brasileira. Sua trajetória como performer inclui festivais renomados, como Santa Jazz (com Nivaldo Ornelas), Festival de Manguinhos (com Mauro Senise) e o Festival de Jazz de Vitória (com Zé Renato). Edu também é cofundador da Escola de Áudio e Música Popular (AMP), onde atuou como professor de bateria e percussão.

Alexandre Araújo (Bandolim)

Mestre em Música pela UFBA (2023), com graduação em Musicoterapia pelo CBM/RJ e especialização em ensino de canto popular pelo Instituto Alpha/ES. Criou o Grupo “Nós nas Cordas”, iniciando suas experimentações com instrumentos regionais brasileiros e gêneros musicais heterogêneos. Fundou a Orquestra de Cordas Brasileiras (1988-1991), pioneira na utilização de instrumentos regionais em formação orquestral no Brasil.

Em Vitória/ES, ministrou aulas de Percepção Musical, Violão, Cavaquinho e Bandolim em diversos projetos. Atuou como professor de Violão, Bandolim, História da Música Popular, Cavaquinho, Flauta Doce e Ukulele na Faculdade de Música do Espírito Santo “Maurício de Oliveira” (Fames). Participou da fundação da “Dixieland Fames” e do Grupo “Choro em Cena” (Fames). Integrou os grupos “Choro Ferrabrás”, “Grupo Tetraktys”, Grupo “Carne de Gato”, “Samba Sem Hora”, “Gafieira Na Cumbuca” e Grupo “Chorinho na Praia”. Foi fundador e presidente da Associação de Musicoterapeutas do Espírito Santo em sua primeira gestão (2018-2021).

Cristiano Costa (Clarinete) – Natural do Rio de Janeiro, é pós-graduado em Música e Artes pela UniBF (Centro Universitário) e bacharel em clarinete pela UNIRIO. Atua como chefe de naipe dos clarinetes na Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo. É professor do Programa “Música na Rede” e integrante do “Quinteto 5 Linhas”. Venceu diferentes concursos como o Sul-Americano de Clarinetistas, em Tucumán/Argentina, e o Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica de Goiânia. Sua trajetória inclui apresentações em Buenos Aires (Argentina) e em Nova Iorque (EUA).

Victor Polo (Violão, Harmonia) – Mestre e doutor em Música pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atua como compositor, guitarrista, violonista, professor de música e pesquisador acadêmico.Com o grupo “Telecoteco”, participou da gravação do CD “É Hora de Trocar as Válvulas” (2014), que integra a lista dos 100 melhores discos de MPB de 2014 pelo site melhoresdamusicabrasileira.com.br. Com o grupo “Trem Doido” lançou, em 2018, o primeiro disco da banda, que conta com releituras de canções do Clube da Esquina. Também, com o mesmo grupo, lançou o EP “Outra Esquina, Nova Estação” (2024). Foi premiado em 2º lugar no “Festival da Canção Brasileira do Sesi” (2018) com a música “Sé de Mariana” (Victor Polo/Carlinhos Campos).

Como solista atuou ao lado da Orquestra Sinfônica do ES, Orquestra Sinfônica de Goiânia, Orquestra da UNIRIO, Banda Filarmônica do RJ, Banda Sinfônica de Mogi das Cruzes (SP), Banda do Festival de Domingos Martins e Orquestra Camerata Sesi. Colabora como professor convidado do Festival Internacional de Domingos Martins, Festival Música na Rede e Festival de Música Erudita do ES, entre outros festivais.

Daniel Tápia (Gravação; Áudio-musical) – É professor adjunto nas áreas de Música e Tecnologia, Música de Cinema e Violão do Departamento de Teoria da Arte e Música da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde coordena as atividades do Estúdio de Música UFES e projetos de pesquisa relacionados ao som na produção musical. Compositor, violonista, arranjador e áudio-musicista, é autor dos livros “O áudio musical e o áudio-musicista” (Lumme, 2018) e “Áudio musical: uma introdução” (Editora da UNICAMP, 2020). Foi indicado ao Grammy Latino (2018) pela gravação do álbum “No mundo dos sons” (2017), de Hermeto Pascoal e Grupo. Recentemente lançou seu primeiro conjunto de composições gravadas no EP “Contrastes”. Como áudio-musicista participou de cerca de 100 discos, além de turnês nacionais e internacionais, com artistas de relevância nacional, como Ricardo Herz Trio, Toninho Ferragutti, Fabiano Cozza, MPB4, Nelson Ayres Big Band, Hercules Gomes e HeptaSopro.

Saiba mais sobre o choro

O choro foi a primeira música popular urbana tipicamente brasileira. E tudo começou a partir da vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, após as tropas napoleônicas invadirem Portugal. A transferência da corte portuguesa para as terras cariocas trouxe mudanças políticas, econômicas e sociais e impactou o cenário urbano e cultural brasileiro. Os primeiros conjuntos de choro apareceram por volta de 1880 nas biroscas, residências e quintais dos subúrbios cariocas como um jeito de interpretar as músicas das danças de salão europeia praticadas nos bailes e salões da alta sociedade.

Os chorões e choronas encontraram nos espaços de convivência e de trocas dos quintais uma forma de tocar as músicas importadas e, ao fazerem isso, criaram um estilo totalmente brasileiro influenciado por elementos musicais das culturas europeias, africanas e indígenas. Logo as apresentações singulares nos ambientes populares se destacaram e atraíram a atenção da elite imperial e passaram a ocupar também os nobres salões.

Habilidosos e versáteis, os músicos inventaram um jeito de tocar solto e sincopado, com ornamentos e improvisações, abrangendo diversos gêneros musicais, e revezando-se nos solos. Estes conjuntos regionais eram formados, inicialmente, pela flauta, o cavaquinho e pelo violão. Depois, o bandolim e o pandeiro se juntaram aos primeiros instrumentos. Décadas mais tarde foi a vez do violão de 7 cordas se somar ao grupo, constituindo, assim, a formação mais contemporânea do choro.

No ano de 2024, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) declarou o choro como o 53º Patrimônio Imaterial do país, inscrevendo-o no Livro de Registro de Formas de Expressão. Segundo descrição da organização, a caracterização do choro como bem cultural não se limita aos aspectos sonoros ou musicais, mas envolve também diferentes processos históricos e uma riqueza de conexões, interações e trocas de aprendizado dentro e a partir das rodas de choro.

PROGRAMAÇÃO

Fabrik de Choro

Data: 11 a 20 de agosto de 2025

O que é: Projeto musical e cultural itinerante de fortalecimento do choro como patrimônio cultural brasileiro com rodas de choro, concertos e aulas coletiva e individuais de aperfeiçoamento técnico e criativos de músicos através das trocas de experiências, práticas de conjunto e construção de repertórios colaborativos.

Roda de abertura

Data: 11 de agosto

Horário: 18h30

Local: Instituto Marlin Azul – Rua Oscar Rodrigues de Oliveira, 570 – Jardim da Penha (Vitória-ES)

Público: toda a comunidade

Entrada Gratuita