
Com a chegada do verão, cidades como Vitória, Vila Velha e Guarapari voltam a sentir os efeitos do aumento expressivo no fluxo de veículos e pedestres. O período de férias e alta temporada turística costuma intensificar congestionamentos, pressionar o transporte público e aumentar a demanda sobre áreas de lazer e avenidas litorâneas. Para a presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU-ES), Priscila Ceolin, é nesse momento que os principais gargalos aparecem e que o debate sobre soluções precisa ganhar mais seriedade, sempre sob a ótica da mobilidade urbana integrada.
Levantamento da Secretaria de Estado do Turismo (Setur), baseado nos registros do transporte fretado, indica que o Espírito Santo recebeu 389.035 passageiros desse tipo de viagem em 2024. O número representa um crescimento acumulado de 121 por cento nos últimos três anos. O movimento mais intenso ocorreu no verão, com cerca de 52 mil passageiros em janeiro e 43 mil em dezembro. No consolidado anual, Guarapari foi o destino mais procurado, com 162.410 visitantes, seguida de Vitória, que recebeu 130.069.
Priscila explica que a mobilidade no verão não deve ser encarada apenas como um problema de trânsito. Ela lembra que a forma como as pessoas se deslocam está diretamente ligada à qualidade da experiência urbana. “Falamos de calçadas adequadas, ciclovias seguras, sombreamento, sinalização eficiente e espaços públicos que tornem os trajetos mais agradáveis, especialmente quando a cidade está cheia”, afirma.
A presidente destaca que várias ações rápidas podem aliviar a pressão sobre as áreas mais críticas. Uma delas é a criação de corredores de mobilidade sazonais, com faixas temporárias para ônibus e bicicletas em trechos de maior fluxo. A medida reduz deslocamentos de curta distância feitos de carro e melhora o desempenho do transporte coletivo. Outra estratégia é a ampliação de calçadas e áreas destinadas ao pedestre, o que pode ser feito com plataformas temporárias e pequenos alargamentos de espaço público em regiões movimentadas. Em horários específicos, trechos da orla podem ser fechados para carros, medida que traz segurança e fluidez ao pedestre.
Priscila também defende a implementação de rotas de micro mobilidade conectando estacionamentos, praias, polos gastronômicos, hotéis e áreas de lazer. Esses percursos sinalizados facilitam deslocamentos curtos, que representam parte importante do volume de carros no verão. Para reduzir a entrada de veículos nas zonas litorâneas, uma solução eficiente é a criação de bolsões de estacionamento periféricos com serviço de shuttle, que leva os visitantes até as áreas de maior interesse sem pressionar os bairros já saturados.
Outro ponto levantado pela presidente é o reordenamento das operações de carga e descarga, que aumentam durante a alta temporada. Horários específicos, locais definidos para entrega e pequenos pontos de apoio logístico evitam paradas irregulares, protegem pedestres e mantêm as calçadas desobstruídas.
Para Priscila, o verão funciona como um período de aprendizado. “Se conseguimos estruturar soluções para essa época, conseguimos replicá-las ao longo do ano. É uma oportunidade para que as cidades deixem de reagir ao problema e passem a se antecipar a ele. Políticas consistentes de urbanismo e mobilidade podem tornar o verão mais organizado e, ao mesmo tempo, fortalecer um ambiente urbano mais saudável, inclusivo e eficiente para toda a população”, conclui.
