
Será de um capixaba a responsabilidade de representar e apresentar as demandas de mais de 200 mil cafeicultores da América Latina e do Caribe na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que começa oficialmente no próximo dia 10, na cidade de Belém, no Pará.
Presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), que fica no município de Muqui, Carlos Renato Alvarenga Theodoro participará do evento como representante da Rede de Café da Coordenadora Latino-americana e do Caribe de Pequenos(as) Produtores(as) e Trabalhadores(as) de Comércio Justo (CLAC), entidade que reúne organizações certificadas Fairtrade (Comércio Justo).

No Brasil, 24 associações e cooperativas de café – que agregam mais de 3 mil cafeicultores e cafeicultoras – possuem a certificação Fairtrade, reconhecida internacionalmente por promover relações comerciais mais justas e sustentáveis. A CLAC reúne mais de 200 mil cafeicultores de 10 países. A missão de Renato é buscar conhecimento e referências que possam contribuir para o desenvolvimento de ações de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na produção de café no país, além de identificar iniciativas inovadoras que possam ser aplicadas nas propriedades brasileiras.
Renato citou dados de um estudo elaborado pela CLAC, que aponta graves ameaças para a cafeicultura nacional caso medidas de mitigação não sejam adotadas. O documento destaca que o avanço das mudanças climáticas já impacta diretamente as lavouras, exigindo respostas rápidas e estruturadas.
Nesse processo, a CLAC, em parceria com a Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil (BRFAIR) e as cooperativas e associações, já promove diversas iniciativas em apoio aos produtores. Entre elas, o Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas (PDA), instrumento estratégico que define ações, metodologias e atividades voltadas a fortalecer a resiliência climática das propriedades certificadas Fairtrade.
O plano considera fatores sociais, culturais, econômicos, organizacionais e ambientais de cada território, orientando o desenvolvimento de práticas sustentáveis no campo. Essas ações já têm apresentado resultados positivos nas lavouras, contribuindo para maior estabilidade produtiva, redução de impactos ambientais e fortalecimento da cafeicultura de base familiar.
Com a participação na COP30, a expectativa é que novas soluções e oportunidades sejam incorporadas ao contexto rural brasileiro, ampliando o potencial de adaptação frente aos desafios climáticos e dando mais voz aos pequenos produtores nas discussões globais sobre sustentabilidade.
“Apresentarei o “Manifesto CLAC”, em que pontuamos a importância de os produtores e das organizações de cafés Fairtrade serem protagonistas e participantes importantes desse processo de redução dos efeitos das mudanças climáticas. Participarei de painéis e atividades na COP30 em que poderemos levar a voz desses mais de 200 mil produtores de café certificados da América Latina e do Caribe”, destacou Carlos Renato.
EXEMPLOS NA CAFESUL – A Cafesul já realiza, há vários anos, trabalhos com foco na preservação ambiental nas propriedades dos cooperados. E muitas áreas tiveram as paisagens transformadas: o que era área degradada, hoje é coberto pelo verde de florestas e plantações e nascentes de água surgiram e são preservadas.
As inúmeras ações são realizadas pela cooperativa por meio do Prêmio Fairtrade, um valor a mais que é pago por cada saca de café comercializada com a certificação internacional. Esse recurso é usado pelas Organizações de Pequenos Produtores (OPPs) em ações ambientais, sociais e outras voltadas à melhoria de vida dos agricultores e das comunidades onde estão essas organizações.
Na Cafesul, por exemplo, tem sido feito um trabalho de estímulo à produção orgânica. Atualmente, 10 propriedades são de cafés orgânicos, cuja produção e toda exportada pela cooperativa, principalmente para a Suíça e Alemanha.
O presidente da cooperativa informou que a Cafesul está buscando mais produtores de café orgânico de outros municípios para poder suprir uma demanda de mercado. Segundo ele, compradores do Canadá também estão interessados no café, além da crescente demanda nos mercados em que a cooperativa já atua. A produção atual de cafés orgânicos da Cafesul é de cerca de 600 sacas por ano.
“A demanda está crescendo a cada ano e damos todo o suporte para o cafeicultor que queira iniciar e para aqueles que já produzem café orgânico. Como a cooperativa é certificada Fairtrade, o fato de o café ser orgânico já rende ao produtor um valor de cerca de R$ 300 a mais por saca. Mas, se o produto for de qualidade, ainda tem adicionais, o que dá um diferencial ainda maior”, contou o presidente da Cafesul.