Café a R$ 40? Preço do produto nos supermercados quase dobrou em um ano em BH

Um dos motivos para o aumento são as condições climáticas, que afetaram a produção e, consequentemente, os preços repassados ao consumidor

Café dobrou de preço em um ano Foto: Freepik/Banco de Imagens -

O preço do café subiu 95,88% em 12 meses em Belo Horizonte. A tradicional bebida amada dos mineiros, que no ano passado, para um pacote de 500 gr, ainda custava menos de R$ 20, hoje passa de R$ 40 em alguns estabelecimentos da capital. Segundo dados divulgados na pesquisa da cesta básica realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), o café moído (0,6 kg) chegou a uma média de preço de R$ 38,04 em abril. Só nos primeiros quatro meses de 2025, o aumento no preço é de quase 40%. 

E, para a tristeza do mineiro que ama um cafezinho, o preço não deve cair, pelo menos por agora. Na análise de especialistas, diversos fatores ainda devem interferir no preço da bebida. “No curto prazo, infelizmente, a notícia é que os preços do café infelizmente não vão reduzir para o consumidor final. O que a gente enxerga é que, com a entrada da colheita agora no mês de maio, os preços tendem a ter uma amenizada, mas voltar a preços do ano passado e de outros anos, com certeza isso não se dará no curto prazo”, avalia a analista de agronegócios do Sistema Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes.

Uma das explicações para a alta do café está na produção, que caiu e deve ser novamente afetada em 2025, pelo menos em Minas. Conforme dados do levantamento da Safra de Café da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados nesta semana, a safra mineira de café, por exemplo, deve alcançar 26,1 milhões de sacas, o que significa uma redução de 7,1% em comparação ao volume total produzido na safra anterior.

Segundo a companhia, a queda de produção é justificada pelo ciclo de bienalidade negativa (o café arábica, especialmente no Brasil, é caracterizado por ciclos alternados de alta e baixa produtividade – este ano é de baixa, naturalmente), aliada, principalmente, ao longo período de seca nos meses que antecedem a floração.

De acordo com o levantamento Conab, houve um longo período seco, entre abril e setembro de 2024, e as lavouras enfrentaram instabilidade, afetando as plantações. “O principal fator que indicava esse estresse era que, além das folhas murchas, as plantas estavam cada vez mais desfolhadas”, diz a Conab.

Mesmo com a chegada das chuvas em setembro, que ajudaram na expansão dos frutos, uma nova onda de calor afetou a produção. Além disso, de fevereiro a meados de março, o clima ficou bem seco na região. “Nesse período, as chuvas foram esparsas e de volumes reduzidos, além de uma nova elevação nas temperaturas médias, algo que favoreceu uma maior presença de algumas pragas e doenças, especialmente ácaros e cercosporiose, que se beneficiam dessas condições climáticas, e que também dificultou a realização de tratos culturais, especialmente no quesito nutricional. Assim, houve redução de parte do potencial qualitativo e quantitativo dos grãos”, diz a Conab.

Além disso, se forem levadas em consideração as movimentações do comércio internacional, o preço do café continuará uma incógnita. Além do Brasil, o Vietnã, por exemplo, um dos grandes produtores mundiais, também sofreu com estiagens, o que também pressionou os preços.

O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, acrescenta sobre o cenário de incertezas diante da guerra tarifária iniciada por Donald Trump sobre produtos importados pelo país (o Brasil é o maior fornecedor de café aos Estados Unidos, havia a expectativa de o preço cair por aqui com uma possível queda na exportação). “Há muita dúvida ainda referente a algumas determinações geopolíticas, como o tarifaço, de como as negociações vão seguir diante de novas interferências do governo americano ou se isso vai continuar”, diz. “É muito importante dizer que os estoques continuam baixos e o consumo, apesar de todas as expectativas por causa do tarifaço, que poderia ter ou não uma baixa no consumo, ainda não se confirmou”, pondera.

“Então, essa toda essa insegurança acaba também afetando o mercado, mas ainda no passo de espera, sem nenhuma decisão negativa. Portanto, é provável que os preços do café continuem oscilando nos próximos meses devido a esses fatores”, afirma. “Não há uma tendência clara de alta ou baixa, e os preços podem, sim, variar dependendo da região do tipo do café. No entanto, nesse momento, o mercado está em leve baixa, um pouco mais se adequando à realidade, expurgando todo o excesso. A gente acredita que nos próximos dois meses poderá haver uma calmaria no mercado”, pontua.

Perspectivas para o café

Apesar da expectativa de queda na produção em Minas, houve uma revisão nas estimativas divulgadas pela Conab no 1º levantamento. No início do ano, a projeção era era bem menor, de 24,8 milhões de sacas no Estado, o que representaria uma redução de 11,6% em relação ao ciclo de 2024.

Além disso, a expectativa nacional é de ligeiro crescimento na produção, o que pode trazer, no futuro, algum alívio no preço final da bebida. Conforme a Conab, a estimativa da produção dos Cafés do Brasil, incluindo arábica e canephora (café robusta+conilon), é de um volume físico equivalente a 55,67 milhões de sacas de 60kg. Essa performance, caso se confirme no decorrer deste ano, representará um ligeiro acréscimo de 2,7% em relação ao que foi efetivamente colhido na safra do ano anterior, cuja produção totalizou 54,21 milhões de sacas.

Esforços do governo

Outro ponto que pode ajudar a aliviar é que, com o preço do café nas alturas, no mês passado, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, chegou a enviar um pedido ao Ministério da Fazenda na tentativa de frear a inflação do produto. O ministro pediu, na ocasião, que fosse avaliada a possibilidade de os produtores contratarem, simultaneamente, créditos como o Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural) e o Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), para custeio da produção. 

Atualmente, quem aciona o Pronamp não pode pedir outro financiamento dentro do mesmo período de 12 meses (ano agrícola, de 1º de julho a 30 de junho do ano seguinte). Além disso, quem recorre ao Pronamp só pode acessar o Funcafé para recuperação de cafezais danificados. Segundo o ministério, a medida não representaria aumento de subsídios, porque manteria os limites de repasses (que hoje é de até R$ 1,5 milhão por beneficiário no Pronamp e de R$ 3 milhões no Funcafé, por cafeicultor).

FONTE: O TEMPO