
O anúncio da Bet da Caixa, plataforma de apostas online da Caixa Econômica Federal, movimentou o setor financeiro e político nas últimas semanas. A proposta do banco público de lançar um serviço próprio de bets, com previsão de arrecadação de até R$ 2,5 bilhões em 2026, foi recebida com críticas de parte do governo e da sociedade, gerando um debate sobre o papel do Estado no mercado de apostas.
Embora a iniciativa da Caixa tenha provocado forte repercussão, outros bancos públicos já avançam em projetos similares. Entre esse grupo está o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes SA). A instituição capixaba oficializou em janeiro a criação da Banestes Loteria, subsidiária voltada à exploração de serviços lotéricos e apostas de quota fixa (bets), após a publicação do decreto de regulamentação no Diário Oficial do Estado.
A nova empresa permitirá operações tanto no formato físico quanto digital, incluindo modalidades tradicionais, como loterias numéricas, e outras mais recentes, como apostas esportivas e jogos online. O Banestes selecionou o consórcio argentino World Lottery para gerir a operação, com início previsto para 2026.
Segundo o presidente do banco, Amarildo Casagrande, a iniciativa integra o processo de modernização da instituição, que já atua no ambiente digital com o banco Bizi, lançado em 2024.
O projeto segue uma tendência observada em outros estados, como Sergipe, onde o Banese inaugurou a Lotese, oferecendo centenas de tipos de apostas e destinando parte da arrecadação a programas sociais. Especialistas afirmam que esse modelo de loteria pública tem potencial para ampliar receitas estaduais e garantir maior controle regulatório sobre o setor.
A expansão das loterias e apostas estatais ocorre em meio ao aumento expressivo da popularidade desse tipo de jogos no país. Dados de um cassino online apontam que títulos como KTO Big Bass Splash, Fortune Tiger, Fortune Rabbit, Tigre Sortudo e Gates of Olympus atingiram no mínimo um a cada cinco apostadores na plataforma durante o mês de setembro.
Esses números ajudam a explicar o interesse crescente de instituições financeiras e governos estaduais em explorar o setor, que deve movimentar R$ 22 bilhões no Brasil em 2025. Mas também reforçam a necessidade de políticas de jogo responsável e de fiscalização rigorosa.
A proposta da Caixa, porém, enfrentou rejeição avassaladora. Monitoramento da Ativaweb identificou que 81,4% das menções à Bet da Caixa nas redes sociais foram negativas, com críticas concentradas em três eixos: “hipocrisia estatal”, “desvio de função pública” e “incoerência política”.
Usuários destacaram o contraste entre o discurso do governo federal de combate às bets privadas e a decisão de lançar uma plataforma própria. A repercussão atingiu diretamente a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo nome apareceu em 31,6% das menções, com 90% de teor negativo.
Diante da crise de imagem, o Planalto passou a considerar a suspensão do projeto. Auxiliares de Lula afirmaram que o presidente pretende discutir pessoalmente o tema com o comando da Caixa e que a orientação política é cancelar o lançamento da Bet da Caixa, inicialmente previsto para novembro.