
De olho no crescente interesse por uma alimentação mais saudável, produtores de abacate avocado no Brasil têm apostado na fabricação de azeite a partir da polpa da fruta. Além dos benefícios à saúde – já que o avocado é rico em nutrientes, gorduras saudáveis e fibras – há ainda o componente da sustentabilidade nessa produção: para fabricar o azeite são usados os avocados que não têm a aparência desejada para o mercado premium da fruta nas prateleiras.
Neste momento, quase toda a produção brasileira está voltada para o mercado externo – principalmente EUA, Itália, Japão, Chile e Argentina, segundo a Associação de Produtores de Abacate. Segundo a entidade, pouco mais de 150 mil litros de azeite de abacate são exportados por ano.
“A produção brasileira está em fase inicial, quando comparada aos grandes produtores como México e Chile, mas há um grande potencial de consolidação, em função da qualidade dos produtos atingida no Brasil. As iniciativas têm se mostrado rentáveis”, afirma Adilson Luis Penariol, presidente da associação.
Desde que começou a fabricar azeite de abacate, em 2021, Moacir Carvalho Dias, da Fazenda Irarema, na divisa entre São Sebastião do Paraíso (SP) e Poços de Caldas (MG), trabalha para dar conta da demanda crescente para exportação. Hoje, ele é o maior produtor do Brasil.
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“Começamos como um teste, com apenas 5 mil litros em 2021 e em 2024 chegamos em 120 mil litros exportados, com lista de espera para a próxima safra. Enviamos para Emirados Árabes, Japão, Omã, Chile e Itália, mas não conseguimos atender a demandas de Estados Unidos e Coreia do Sul”. Para 2025, os planos são aumentar a produção em 10%, com processamento de 1,5 toneladas de abacate, segundo Dias.
Assim como outros fabricantes de azeite de abacate, Moacir começou a produção para utilizar o maquinário da fazenda, até então especializada na produção de azeite de oliva. Como a safra de azeitonas é restrita aos meses de janeiro a abril, no restante do ano, as máquinas ficavam ociosas.
Com a colheita do abacate acontece prioritariamente no segundo semestre, “a conta fechou”, diz o produtor. Ele não cultiva abacates, mas compra avocado hass de produtores de São Roque, Mogi-Guaçu e Bauru, no estado de São Paulo, e Três Corações, em Minas Gerais.
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Produtores da fruta também investem
Outro perfil de investidores na produção do azeite de abacate são produtores da fruta. Uma vez que o avocado Hass (variedade mais procurada para a produção do azeite) é um item premium, geralmente selecionado cuidadosamente pela aparência para chegar às gôndolas, essa foi uma maneira de aproveitar as frutas que não atingem o padrão estético para as vendas.
A marca Jaguacy, líder nacional no cultivo e vendas de avocado Hass, com produção de 4 mil toneladas/ano em Bauru (SP), exporta 400 contêineres de fruta por ano, para países como Espanha, Itália, França, Marrocos, Rússia, Argentina e Uruguai. Com esses canais abertos, a empresa também viu a oportunidade de exportar produto com maior valor agregado e passou a investir na produção de azeite.
Ligia Falanghe Carvalo, sócia-diretora da Jaguacy, conta que, nos últimos quatro anos, a produção de azeite da marca era terceirizada, em fábrica construída dentro da fazenda, mas sob direção de empresa parceira. A partir deste ano, a produção passa a ser própria. A Jaguacy construiu uma fábrica que terá capacidade de processamento de 3 mil quilos de abacate por hora.
“Até então nossa produção era bem pequena, feita sob demanda, girando em torno de mil litros por ano. Agora, sabemos que há mercado para bem mais volume e vamos aumentar a produção aos poucos. Ainda não sabemos quanto, mas a perspectiva é promissora”, afirma.
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Também foi pelo melhor aproveitamento da fruta que o produtor José Carlos Gonçalves, de Cajuru (SP), começou a produzir azeite de abacate. Com uma fábrica montada em São Sebastião do Paraíso (MG), ele conseguiu dar destino a 500 toneladas de fruta que antes eram descartadas anualmente, por não atingirem tamanho ideal ou aparência desejada.
“Foi a partir de uma conversa com meu filho que tivemos a ideia. Quando paramos para pensar na quantidade de fruta que era descartada, sabíamos que era a hora de fazer algo. Daí, corremos atrás da construção da fábrica e de aprender a tecnologia”, relata Gonçalves.
Atualmente, cerca de mil litros de óleo são obtidos por dia, no período da safra. Parte desse óleo é destinado à produção de azeite e parte para a fabricação de sabonetes e shampoo sólido. Parte da produção já foi exportada para Japão e Coreia, mas há negociação para envios para Paraguai e Estados Unidos.
A perspectiva para as vendas no mercado interno, hoje pequena, é de crescimento. “À medida em que os brasileiros conhecerem a existência do azeite de abacate e seus benefícios, a tendência é que o consumo aumente”, avalia Ligia Falanghe Carvalo, sócia-diretora da Jaguacy. Um provável empecilho nesse movimento pode ser o preço salgado: 500 ml do produto custam em média R$ 70,00.
FONTE: O GLOBO RURAL