
No último dia 8, foi divulgado nas redes sociais um trecho do programa de entrevistas Ponto a Ponto Business, apresentado pelo jornalista cachoeirense Toninho Carlos. No referido vídeo, o apresentador comenta que, em determinado evento com autoridades na cidade, houve uma apresentação de “boi bumbá”, representando a cultura cachoeirense, e que ele havia se sentido envergonhado, pois, segundo ele, essa não é uma manifestação que representa a cultura do município.
No entanto, um dos grupos que, de fato, fazem parte do rol de representantes do patrimônio imaterial de Cachoeiro de Itapemirim é o tradicional Boi Pintadinho Tsunami do Boa Vista, o qual também é integrante da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense. Diante da afirmação do jornalista, a entidade repudia seu posicionamento e vem manifestar-se por meio da seguinte nota:
A Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, entidade fundada no dia 28 de novembro de 2001, que reúne 26 grupos de patrimônio imaterial sediados no município de Cachoeiro de Itapemirim, REPUDIA VEEMENTEMENTE as palavras equivocadas, elitistas e preconceituosas proferidas pelo jornalista Toninho Carlos, disse um recente episódio do programa Ponto a Ponto Business, ao se referir ao “Boi Bumbá”, que se apresentou em um evento promovido pela Prefeitura Municipal.
Ao identificar o tradicional grupo de Boi Pintadinho Tsunami do Boa Vista como “boi bumbá”, o jornalista já demonstrou seu profundo desconhecimento sobre a cultura local, uma vez que os bois pintadinhos foram as primeiras brincadeiras carnavalescas de Cachoeiro e que, até o início dos anos 1980, estavam ativos – em especial, na figura do saudoso mestre Salatiel, o qual comandava a Boneca Babiana, que saía junto com seu boi e suas mulinhas na região da estação ferroviária de Cachoeiro. Enquanto a elite se reunia nos clubes carnavalescos, a população pobre e negra saia às ruas, na brincadeira dos Bois Pintadinhos da cidade.
Nossos grupos de patrimônio imaterial e muitos de nossos mestres são referência estadual e nacional, sendo que alguns grupos, como os de Caxambu e os de Capoeira, são reconhecidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Nacional – ou seja, de todos os brasileiros –, em função de sua importância histórica e cultural para o Brasil. Nós, portadores do patrimônio imaterial de Cachoeiro, temos o reconhecimento público municipal, estadual e federal, fato que o jornalista, talvez por estar ligado apenas à elite da cidade, não tenha olhos para ver. Um exemplo disso é que, em 2024, recebemos o maior prêmio de patrimônio do Brasil: o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, concedido pelo Ministério da Cultura. Em 37 anos de existência do prêmio, essa foi a primeira vez que ele foi concedido a um projeto do Espírito Santo.
Sugerimos ao jornalista Toninho Carlos que visite nossas redes sociais e nosso site: www.afci.site. Assim, poderá informar-se melhor sobre as mais profundas raízes da cultura cachoeirense, que é produzida e mantida por seu povo pobre, negro, que construiu e continua construindo nossa cidade, mas que segue sendo invisibilizado e atacado – por exemplo, com comentários preconceituosos, como o que foi feito no referido episódio do programa.
Emerson Costa, mestre do Boi Pintadinho Tsunami do Boa Vista e também declarado Patrimônio Vivo de Cachoeiro pela Lei Mestre João Inácio, afirma: “Infelizmente o jornalista não conhece a nossa cultura. Nunca iremos nos calar diante de grande falta de respeito com a cultura popular de nossa cidade. Estaremos sempre lutando pela valorização de todos”. Outros membros do grupo também se manifestaram diante do ocorrido. “Cachoeiro ainda está longe de viver da cultura e do turismo, e, enquanto isso não acontece, é essencial respeitar aqueles que dedicam suas vidas a manter essas tradições vivas. São essas pessoas que lutam para que, daqui a 10, 20 anos, a cidade ainda tenha um movimento cultural forte e enraizado em sua identidade”, afirma Kayo Dalvi. Já Mateus Santana comenta que “se calar diante das falas e reafirmações preconceituosas nos comentários da postagem do referido jornalista é se calar perante uma sociedade que não respeita as minorias. É aceitar que o passado não significou nada para um povo sofrido”.
Vale ressaltar que, em 2024, a história do Boi Pintadinho foi contada no documentário “Dança, Cultura e Alegria: O Boi Pintadinho Revelado”, que está disponível em https://youtu.be/kVT-VR5tYIw?si=npo07u366QWEGy45. Todos os perfis e canais de comunicação do grupo podem ser acessados em https://linktr.ee/grupoculturaltsunamidoboavista.
GALERIA DE FOTOS BOI PINTADINHO TSUMANI DO BOA VISTA






