
A greve da Polícia Militar do Espírito Santo, em fevereiro de 2017, revelou mais do que uma crise de segurança pública. Expôs um traço marcante do estilo de governar de Paulo Hartung: a falta de diálogo em momentos de tensão.
Durante 21 dias de paralisação, o Estado mergulhou no caos. Sem policiamento nas ruas, a violência explodiu. Mais de 200 pessoas foram assassinadas em pouco mais de duas semanas, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública da época. O comércio fechou as portas, ônibus pararam de circular e moradores se trancaram em casa com medo. Cidades da Grande Vitória pareceram zonas de guerra.
Enquanto isso, Hartung manteve-se firme em sua posição de não negociar. Repetiu que a mobilização era ilegal e recusou-se a receber familiares de policiais, que bloqueavam os batalhões em protesto por melhores salários e condições de trabalho. O governador priorizou a defesa da legalidade e da disciplina militar, mas ignorou o clamor de uma sociedade em colapso.
O problema é que, em crises desse porte, a rigidez técnica sem sensibilidade política pode transformar autoridade em isolamento. Faltou ao governador o gesto simbólico de escuta, a presença pública que demonstrasse empatia e liderança. O Espírito Santo ficou à deriva, e o silêncio do Palácio Anchieta soou mais alto do que as sirenes ausentes nas ruas.
Hartung saiu da crise com a imagem de gestor firme e fiscalmente responsável, mas também de líder distante e inflexível, incapaz de dialogar com os próprios servidores. A greve, a mais grave da história capixaba, deixou um saldo trágico de vidas perdidas e uma cicatriz institucional profunda.
No balanço histórico, o episódio de 2017 não foi apenas uma falha operacional da segurança pública. Foi um fracasso de comunicação e empatia, que expôs o lado mais frio do poder e ensinou uma lição ainda atual: em momentos de caos, governar é também saber ouvir.