Vereador tenta agredir Ferraço por conta de demagogia opocisionista

Embate entre vereador João Machado e o prefeito licenciado Theodorico Ferraço ocorreu após confronto político e desrespeito institucional

Vereador foi acusado de desviar material de construção pelo então vereador Ary Correa da Legislatura passada. -

Por Jackson Rangel

Circulou nos últimos dias uma versão distorcida sobre o episódio envolvendo o vereador João Machado (PDT) e o prefeito licenciado Theodorico Ferraço (PP). O fato ocorreu na quinta-feira (18), dentro do Gabinete do Executivo.


A narrativa tentou associar a tentativa de agressão ao debate sobre o aumento do tíquete-alimentação dos servidores. Essa versão não se sustenta.

A apuração da FOLHA DO ES, com base em relatos de servidores e informações oficiais, mostra outro cenário. O embate não teve relação com o benefício. Tampouco envolveu qualquer negativa do Executivo. O episódio decorreu de um confronto político, agravado por postura considerada desrespeitosa dentro da sede do governo.

Reunião não foi convocada por Ferraço

Ao contrário do que se divulgou, Theodorico Ferraço não convocou o vereador.
A bancada do PDT organizou a reunião, junto com o presidente do partido e secretário municipal de Interior, Fabrício do Zumbi.

O encontro ocorreu com o prefeito em exercício Júnior Corrêa (NOVO). A pauta tratou da relação do partido com o governo.

Narrativa falsa sobre emenda ao orçamento

Durante a reunião, Júnior Corrêa repreendeu João Machado por um vídeo publicado pelo parlamentar. No material, o vereador afirmava que uma emenda de sua autoria garantiria R$ 1.200 de tíquete-alimentação em 2026.

A afirmação é falsa.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim foi direta. Apenas o Poder Executivo pode propor reajustes salariais ou alterações em benefícios.

Além disso, vereadores não podem criar despesas. Tampouco podem impor aumentos por meio de emendas sem impacto financeiro ou fonte de custeio definida.

A própria Câmara Municipal confirmou o entendimento. Emendas orçamentárias são autorizativas, nunca impositivas.

Discurso demagógico sob cobrança

Mesmo após tentar minimizar a fala, João Machado admitiu que sabia da ilegalidade da emenda. Ainda assim, alegou que apenas atendia a pedidos dos servidores.

A justificativa não convenceu.

Por isso, Júnior Corrêa cobrou responsabilidade política. Segundo ele, discursos demagógicos criam falsas expectativas e desgastam a relação entre governo e funcionalismo.

Conflito ocorreu após a reunião

Somente após o encerramento do encontro é que Theodorico Ferraço, mesmo licenciado, chamou vereadores, vice-prefeito e secretários à sua sala. O objetivo era apenas um cumprimento institucional.

Nesse momento, porém, o clima mudou.

Ferraço conversava com o vereador Arildo Boleba sobre uma obra no bairro Parque Laranjeiras, antigo Km 90. O projeto prevê um muro de arrimo com mais de 12 metros de altura e 200 metros de extensão.

Ao relatar que o pedido de recursos ao Governo do Estado ainda não avançou, Ferraço ouviu de João Machado, em tom de deboche, que ele “resolvia isso”.

Tentativa de agressão contra prefeito de 88 anos

A fala provocou reação imediata. Ferraço ordenou que o vereador se retirasse do gabinete. Em seguida, relembrou episódios do período em que João Machado atuou na SEMMAT, incluindo o suposto desvio de cimento para Presidente Kennedy, flagrado à época pelo então vereador Ary Corrêa e nunca esclarecido.

O vereador é ligado politicamente ao ex-prefeito Victor Coelho (PSB).

Segundo testemunhas, João Machado se exaltou e avançou contra Ferraço. O prefeito tem 88 anos e mobilidade reduzida. A agressão só não ocorreu graças à intervenção de Arildo Boleba e dos secretários Fabrício do Zumbi e Luciano Baptista.

Prefeitura repudia o episódio

Em nota, a Prefeitura lamentou o ocorrido. O Executivo reforçou que o debate democrático é legítimo, desde que haja responsabilidade e respeito institucional.

“Na gestão pública não há espaço para aventureiros ou demagogos que buscam apenas visibilidade política, sem apresentar soluções reais para os problemas da sociedade”, afirmou a administração.

Até o momento, a Presidência da Câmara de Vereadores não se manifestou sobre a conduta do parlamentar, que pode ser enquadrada como quebra de decoro parlamentar.