Um mito repetido sem dados

Dados oficiais desmontam narrativa falsa usada para relativizar o feminicídio e confundir o debate público sobre violência.

Circula nas redes sociais e em discursos inflamados uma afirmação falsa: a de que mulheres matam mais homens do que homens matam mulheres.

Essa estatística simplesmente não existe. Além disso, não se sustenta em nenhuma base científica. Ao contrário, contradiz todos os bancos de dados oficiais do Brasil e do mundo.

O que os números realmente mostram

De acordo com levantamentos do Atlas da Violência, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da ONU Mulheres, o padrão é claro e recorrente.

Em primeiro lugar, homens são os principais autores de homicídios. Ao mesmo tempo, também figuram como as principais vítimas desses crimes.

Já quando mulheres morrem, na maioria dos casos, o autor é um homem próximo, geralmente alguém do convívio íntimo.

No Brasil, os dados apontam que:

  • Mais de 90% dos homicídios são cometidos por homens
  • Feminicídios têm autoria majoritariamente masculina
  • A residência da vítima é o local mais frequente do crime

Violência doméstica tem gênero

No ambiente doméstico, essa desigualdade se torna ainda mais evidente.
Mulheres morrem, sobretudo, pelas mãos de parceiros, ex-companheiros ou homens com vínculo afetivo direto. Por outro lado, homens assassinados costumam ser vítimas de outros homens, em contextos urbanos marcados por disputas criminais, conflitos armados ou violência difusa.

Portanto, misturar esses cenários não esclarece. Pelo contrário, distorce a realidade.

Quando mulheres matam

É verdade que existem casos em que mulheres matam homens. No entanto, esses episódios são exceção, não regra.
Os registros oficiais revelam padrões recorrentes nesses casos, como:

  • Situações de autodefesa
  • Histórico prolongado de agressões
  • Reação a violência física iminente

Assim, não há equivalência estatística. Não há simetria. Muito menos inversão de papéis.

Por que esse mito se espalha

A falsa estatística cumpre uma função política e discursiva.
Primeiro, relativiza o feminicídio. Em seguida, dilui responsabilidades. Além disso, cria confusão deliberada no debate público.

Não se trata apenas de ignorância. Trata-se, muitas vezes, de estratégia retórica.

A verdade incômoda

Homens morrem mais em números absolutos.
Entretanto, morrem, sobretudo, pelas mãos de outros homens.
Mulheres, por sua vez, morrem menos no total, mas morrem mais por serem mulheres, em crimes marcados por gênero, controle e violência íntima.

Negar essa realidade não é opinião. É negação de fatos.s.


INFOGRÁFICO

Quem mata quem no Brasil

Autoria dos homicídios

  • 👤 Autores homens: +90%
  • 👤 Autoras mulheres: menos de 10%

Bloco 2 – Vítimas

  • 👤 Homens mortos: maioria
  • 👩 Mulheres mortas: minoria, porém com padrão doméstico

Feminicídio

  • 🏠 Local do crime: residência
  • 🔗 Vínculo com agressor: parceiro ou ex

Comparação direta

  • ❌ “Mulheres matam mais homens” → FALSO
  • ✅ “Homens matam mais mulheres” → VERDADEIRO


Fonte: Atlas da Violência, FBSP, ONU Mulheres