Uma pesquisa recente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revela um dado alarmante: mais de 40% dos jovens brasileiros afirmam que gostariam de sair do Brasil para viver no exterior. O número não é apenas estatístico. Ele é político, econômico e social. Sobretudo, é um retrato da frustração de uma geração.
O levantamento mostra que o desejo de emigrar cresce entre jovens de 18 a 29 anos, especialmente aqueles com maior escolaridade ou inserção digital. Não se trata de aventura. Trata-se de falta de perspectiva.
Falta de futuro, não de patriotismo
O discurso fácil tenta enquadrar esse movimento como “falta de amor ao país”. A realidade é outra. O jovem brasileiro não rejeita o Brasil por ideologia. Ele rejeita a ausência de horizonte.
Salários baixos, informalidade disfarçada de empreendedorismo, dificuldade de acesso à moradia, violência urbana e serviços públicos precários formam um combo conhecido. A isso se soma a percepção de que o esforço individual não se converte em ascensão social.
O Brasil cobra caro e entrega pouco.
Estudar, trabalhar e sair
A pesquisa da Febraban dialoga com outros levantamentos recentes. Estudos do Datafolha, IPEA e da OCDE mostram que:
- Jovens brasileiros levam mais tempo para entrar no mercado formal
- A renda média inicial é baixa e estagnada
- A mobilidade social é cada vez menor
- O custo de vida cresce acima dos salários
Não por acaso, países como Portugal, Canadá, Irlanda e Austrália aparecem no topo do desejo migratório. Eles oferecem o básico: previsibilidade, segurança e retorno ao esforço.
O Estado falha, o jovem reage
Enquanto o Estado se expande em discursos, subsídios mal focalizados e programas que aliviam o presente sem construir o futuro, a juventude faz as contas. E decide ir embora.
A lógica é simples: se o país não cria oportunidades reais, o jovem cria rotas de fuga.
Não é coincidência que o mesmo Brasil onde quase metade dos jovens pensa em sair seja o país onde cresce o subemprego, a pejotização forçada e a dependência de auxílios. O sistema empurra para fora quem poderia sustentar o amanhã.
Um alerta ignorado
O dado da Febraban deveria acender luz vermelha em Brasília, nos estados e nos municípios. Perder jovens qualificados significa perder inovação, arrecadação, consumo e liderança futura.
Mas o debate segue raso. Prefere-se discutir narrativas, não estruturas. Enquanto isso, aeroportos viram símbolo silencioso de despedida.
O jovem não está desistindo do Brasil.
O Brasil é que está desistindo do jovem.
