Por Jackson Rangel
A política capixaba já viu muitos movimentos táticos, mas poucos tão explícitos quanto o do prefeito de Vila Velha, Arnaldo Borgo (PSDB). Após o governador Renato Casagrande (PSB) anunciar publicamente seu vice, Ricardo Ferraço (MDB), como o nome legítimo, viabilizado e ungido para a sucessão estadual, Arnaldinho resolveu se comportar como um estranho no próprio grupo. Insiste em manter uma pré-candidatura que já nasceu sem fôlego e sem base real.
Entre os aliados do campo casagrandista, Borgo sempre foi o mais falseado. Nunca demonstrou lealdade política consistente, nem densidade eleitoral compatível com o projeto que diz defender. Agora, ao sustentar um discurso de independência tardia, revela não convicção, mas cálculo.
A dúvida central não é se ele será candidato. A dúvida é se terá coragem de desincompatibilizar em abril e assumir o risco. Tudo indica que não. Os números são implacáveis. Arnaldinho não alcança sequer metade das intenções de voto dos dois primeiros colocados. Perde feio na Grande Vitória, inexiste no Sul e não ecoa no Norte do Espírito Santo. Não construiu liderança estadual, não formou base política e não apresentou projeto além do próprio ego.
Nesse cenário, sua pré-candidatura soa como balão de ensaio. Um ativo colocado em leilão. Quem pagar mais leva. Vice, secretaria estratégica, espaços futuros ou acordos de sobrevivência política. É a velha política de barganha travestida de debate democrático.
O jogo é perigoso. A dubiedade cobra preço alto. Ao flertar com todos, Borgo não se compromete com ninguém. Age como se fosse o pêndulo do relógio eleitoral, quando na verdade é apenas espectador de um processo que já tem rumo definido. Falta-lhe autocrítica. Sobra-lhe soberba.
O que se vê é despreparo político e comportamento de garoto mimado, embalado por um narcisismo que ignora a realidade dos fatos. A política não perdoa quem confunde ambição pessoal com projeto coletivo. E o tempo eleitoral, esse sim, não espera leiloeiros.
