O Brasil do auxílio contra o Brasil do crachá

Por Jackson Rangel

Há números que informam. Outros, no entanto, escancaram. O Brasil vive hoje um desses constrangimentos estatísticos: 48% da população recebe algum tipo de auxílio do governo, enquanto apenas 39% mantém vínculo formal pela CLT. Esse paralelo não é neutro. Pelo contrário, ele revela um país que trocou o trabalho produtivo pela dependência administrada pelo Estado.

Não se trata de atacar quem precisa de ajuda. Trata-se, antes de tudo, de questionar um modelo que deixou de ser transitório e virou política permanente. O auxílio nasceu como proteção, como rede de segurança para momentos de queda. Contudo, com o passar do tempo, essa rede virou chão. Em vez de estimular o retorno ao mercado formal, o Estado passou a organizar a permanência fora dele.

Consequentemente, criou-se a ilusão de inclusão social. Entretanto, inclusão sem autonomia não emancipa. Apenas mantém. Sem renda produtiva, não há liberdade econômica. Há dependência contínua, administrada e politicamente conveniente.

Enquanto quase metade recebe, pouco mais de um terço sustenta. O trabalhador celetista, mesmo em retração, continua financiando o sistema, pagando impostos e mantendo a máquina pública em funcionamento. Ainda assim, o emprego formal é tratado como problema. Sofre com carga tributária elevada, burocracia excessiva e insegurança jurídica. Assim, empregar virou risco. Empreender virou aposta.

Como resultado, o país mergulha na informalidade, nos bicos e no subemprego. Em seguida, o próprio Estado surge como solução, oferecendo auxílios pagos por uma base produtiva cada vez menor. Politicamente, o ciclo funciona. Socialmente, engana. Economicamente, não fecha.

Nenhuma nação se sustenta quando mais pessoas recebem do que produzem. Nenhuma democracia amadurece quando a dependência se torna regra e o trabalho formal vira exceção. Além disso, o impacto não é apenas fiscal. Ele é cultural. Trabalhar perde valor simbólico. O esforço deixa de ser horizonte. A dependência passa a ser normalizada como destino.

Nesse cenário, qualquer tentativa de rever o modelo é tratada como ataque aos pobres. No entanto, enfrentar o assistencialismo permanente não é crueldade. Pelo contrário, é responsabilidade. É reconhecer que política social não pode substituir política de emprego, renda e produtividade.

O contraste entre 48% assistidos e 39% celetistas não é apenas um retrato do presente. É um aviso claro sobre o futuro que estamos aceitando sem reagir. Um país que desestimula quem produz e acomoda quem depende não avança. Ele estagna.

Ignorar esse desequilíbrio não é empatia. É covardia política travestida de virtude social.