Pesquisa revela álcool e drogas em 51% das mortes no Estado

Levantamento da Rede Abraço e da Polícia Científica analisa 10 anos de dados e mostra perfil das vítimas, prevalência de drogas, álcool e relação com diferentes tipos de óbitos

- A Rede Abraço e a Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES) divulgaram, nesta quinta-feira (11), os resultados da pesquisa inédita "Painel Pericial de Substâncias Psicoativas do Espírito Santo (Paspes)". Foto: Julia Paranhos

Por Thamiris Guidoni

A Rede Abraço e a Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES) divulgaram, nesta quinta-feira (11), os resultados da pesquisa inédita “Painel Pericial de Substâncias Psicoativas do Espírito Santo (Paspes)”, financiada pelo Programa Rede Abraço.

O estudo reúne e analisa dados sobre a presença de álcool, drogas ilícitas, medicamentos e agrotóxicos em vítimas de mortes por causas externas em 11 municípios capixabas: Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha, Vitória, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina e Ibiraçu.

O trabalho buscou identificar relações entre substâncias detectadas, tipo de óbito e variáveis sociodemográficas como sexo, idade e raça/cor, aprofundando a compreensão sobre como esses fatores se conectam às mortes violentas.

De acordo com Mariana Dadalto, coordenadora do estudo, perita e chefe do Laboratório de Toxicologia Forense (LABTOX) da PCIES, a pesquisa foi desenvolvida pela Polícia Científica em parceria com a Ufes e o Ifes Serra. O financiamento veio por meio de edital da Fapes, dentro do Programa Rede Abraço.

“A pesquisa no Espírito Santo mapeou as principais características demográficas das vítimas de mortes violentas: são majoritariamente homens jovens e adultos (entre 18 e 30 anos), com uma alta prevalência da cor parda. Ao correlacionarmos o tipo de morte com as substâncias psicoativas, percebemos padrões cruciais que nos permitem direcionar as intervenções”, disse Mariana.

E completou: “Em casos de homicídios, a cocaína é a substância psicoativa mais frequentemente envolvida; em sinistros de trânsito, o álcool prevalece. Além disso, identificamos nuances importantes por faixa etária dentro de cada incidente. Enquanto o álcool em sinistros de trânsito atinge mais a faixa dos 40 anos, a cocaína concentra-se nos 30 anos e a maconha, nos 18 anos. Estes dados detalhados são fundamentais, pois nos permitem construir políticas e campanhas de prevenção altamente direcionadas, maximizando a nossa taxa de sucesso.”

O subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas e coordenador do Programa Rede Abraço desde 2019, Carlos Lopes, destacou a relevância estratégica da pesquisa para a formulação de políticas públicas no Espírito Santo.

O estudo reúne e analisa dados sobre a presença de álcool, drogas ilícitas, medicamentos e agrotóxicos em vítimas de mortes por causas externas em 11 municípios capixabas
O estudo reúne e analisa dados sobre a presença de álcool, drogas ilícitas, medicamentos e agrotóxicos em vítimas de mortes por causas externas em 11 municípios capixabas. Foto: Julia Paranhos

Segundo ele, “Para o governo do Estado do Espírito Santo e para o Programa Rede Abraço, a importância de pesquisas como a que acabamos de analisar transcende a simples coleta de dados. Ela é o alicerce de toda a nossa estratégia. Não é possível construir políticas públicas assertivas e eficazes no enfrentamento às drogas e à violência sem o compromisso inegociável com a ciência, a pesquisa e a evidência.”

Lopes reforça que investir em estudos detalhados é essencial para transformar dados em ações eficazes.

“Investir em estudos aprofundados é, na verdade, um investimento em inteligência estratégica. Quando desvendamos, por exemplo, que o álcool predomina nas fatalidades de trânsito numa faixa etária diferente da cocaína nos homicídios, nós transformamos a incerteza em alvo. Deixamos de atirar no escuro para construir, por exemplo, campanhas de prevenção altamente direcionadas e com linguagem específica para cada grupo de risco.”

Para o subsecretário, a ciência aplicada à gestão pública garante precisão no uso dos recursos e maior impacto social. Como ele afirma, “A evidência científica é o que nos permite ir além do senso comum. Ela garante que cada real do dinheiro público seja aplicado com a máxima taxa de sucesso possível, salvando vidas e promovendo a segurança pública com precisão e responsabilidade. A ciência não é um luxo; ela é a ferramenta fundamental para a excelência na gestão pública.”

PANORAMA DAS SUBSTÂNCIAS DETECTADAS EM MORTES POR CAUSAS EXTERNAS (2013–2023)

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CategoriaSubcategoriaInformação
Visão geralTotal de casos analisados7.573
Visão geralResultado positivo para alguma substância51,06%
Visão geralSubstâncias mais detectadas (geral)Álcool (26,9%), depois cocaína e maconha
HomicídiosProporção dos casos33%
HomicídiosPerfil das vítimasHomens pardos, 18 a 29 anos
HomicídiosSubstâncias mais detectadasCocaína (32,7%) e álcool (30,8%)
Intoxicação exógenaObservaçãoGeralmente suicídio, mais frequente em mulheres
Intoxicação exógenaSubstâncias mais detectadasBenzodiazepínicos

Fonte: Pesquisa realizada pela Rede Abraço e a Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES)

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Os dados abrangem vítimas examinadas pelo Instituto Médico Legal (IML) de Vitória entre 2013 e 2023, além dos laudos toxicológicos produzidos pelo LABTOX. Dos 7.573 casos analisados, mais da metade (51,06%) apresentou resultado positivo para ao menos uma das substâncias pesquisadas. O álcool foi a mais detectada, aparecendo em 26,9% das amostras, seguido por cocaína e maconha.

Um dos recortes mais expressivos envolve os homicídios, que representam um terço (33%) dos casos avaliados. O perfil predominante das vítimas é o de homens pardos, de 18 a 29 anos. Nessa categoria, a substância mais encontrada foi a cocaína (32,7%), seguida pelo álcool (30,8%).

A prevalência do sexo masculino aparece em quase todos os tipos de ocorrência, com exceção dos casos de intoxicação exógena, mais comuns em situações de suicídio envolvendo mulheres. Nesses episódios, os benzodiazepínicos, medicamentos usados como ansiolíticos, sedativos, relaxantes musculares e indutores do sono, foram as substâncias mais detectadas.

Os resultados oferecem uma base científica sólida para compreender a relação entre o uso de substâncias psicoativas e as mortes por causas externas, contribuindo para estratégias públicas de prevenção, cuidado e redução de danos. Os indicadores completos serão apresentados ao público e disponibilizados no Observatório Capixaba de Informações sobre Drogas (OCID) e no site da PCIES.

Onde buscar ajuda

CAAD Vitória (Região Metropolitana)
R. Treze de Maio, 47 – Centro

CAAD Cachoeiro de Itapemirim (Região Sul)
R. Dr. Raulino de Oliveira, 56 – Centro

CAAD Linhares (Região Norte)
Av. Hans Schmoger, 333 – Nossa Sra. da Conceição

Telefone: 0800 028 1028
WhatsApp: (27) 3636-6200.

FONTE: ES BRASIL