O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, tenta manter um personagem curioso: o político que faz tudo como pré-candidato, mas nega ser pré-candidato. Ele percorre municípios, articula com aliados, grava vídeos, participa de eventos estratégicos e divulga pesquisas quando aparece bem. Depois disso tudo, repete que “nunca disse que é pré-candidato ao governo”.
É um expediente velho travestido de modernidade. Pazolini tenta jogar com a literalidade da frase, como se o eleitorado fosse obrigado a ignorar o que está à vista. O problema é que, em plena era digital, o blefe dura segundos. Ao negar o que pratica diariamente, cai no ridículo de produzir factóides para tensionar jornalistas e alimentar especulações artificiais.
O prefeito insiste em posar como “diferente”, mas sua postura o aproxima justamente do que há de mais tradicional na política: o jogo do disfarce. Se realmente não fosse pré-candidato, não passaria o ano em turnê pelo interior na companhia de operadores políticos. Muito menos ficaria seduzido pelas pesquisas que o exibem bem posicionado. A inconsistência não passa despercebida por ninguém.
Esse negacionismo eleitoral é um desserviço. Confunde, desgasta e reduz credibilidade. A sociedade sabe interpretar sinais — e Pazolini emite todos: organização, articulação e presença. Só falta conjugar o verbo. Aliás, falta apenas assumir o que já está na rua desde janeiro.
No fundo, o prefeito gosta do palco e do espetáculo. Gosta de performance, de câmera, de atenção. Gosta de “Calcinha Preta” e da velha política da “mão no ombro”. Pode negar a pré-candidatura quantas vezes quiser, mas não consegue disfarçar o óbvio: já está no jogo há muito tempo. Quem realmente não é candidato não precisa fingir que não é.
