Já foi tempo em que o jornalismo se sustentava com uma caderneta gasta e uma caneta Bic como pilares da informação. Era simples, direto e confiável. O repórter via, anotava, apurava e publicava. A credibilidade vinha do suor, não de conglomerados que tratam notícia como ativo financeiro.
Hoje, a imprensa hegemônica se contorce sob o peso do próprio viés ideológico. O mercado transformou redações em departamentos de propaganda e lavou a honra do bom jornalismo com detergente mercantilista. A consequência é brutal. Mesmo com anotação, fotografia, gravação e vídeo, o jornalista independente não tem salvação diante da justiça militante que escolhe quem é culpado e quem recebe absolvição automática.
É nesse ambiente tóxico que agentes públicos flagrados com batom na cueca são resgatados pela grife “fake news”. Basta repetir o mantra e tudo vira verdade oficial. O jornalista vira mentiroso e o corrupto ganha selo institucional de credibilidade. A inversão é tão profunda que parece obra de ficção distópica.
O jornalismo independente e opinativo se tornou o terror de parte do Judiciário. Muitos juízes cultuam a personalidade dos requerentes como se fosse um valor superior ao direito de expressão e ao livre pensamento. Preferem proteger reputações delicadas do que a democracia. O arcabouço jurídico foi revirado para servir a quem grita mais alto e não a quem revela a realidade.
Teme-se a internet como se fosse uma terra sem lei. No entanto, o problema nunca foi a internet. O problema sempre foi quem opera no subterrâneo do poder, quem deseja censura como instrumento de autopreservação. A ordem deveria ser excluir naturalmente os verdadeiros bandidos dessa matrix, e não punir quem ousa iluminar o que eles querem manter no escuro.
O jornalismo não morreu. Mas está cercado.
E, justamente por estar cercado, precisa ser ainda mais livre.
