Berdeal é o favorito para comandar o MPES

A corrida pelo comando do Ministério Público do Espírito Santo entrou no modo automático. O órgão que deveria respirar alternância e independência institucional assiste, mais uma vez, à força da máquina esmagar qualquer disputa real. O procurador-geral Francisco Berdeal busca a reeleição e já se comporta como franco favorito, não por mobilizar ideias novas, mas porque opera de dentro do sistema que o consagrou.

A eleição virou um rito previsível. A lista tríplice será formada, os nomes circularão, algumas candidaturas surgirão apenas para marcar posição e, ao final, o poder seguirá orbitando o mesmo grupo que comanda o MPES desde 2012. A distância entre a instituição e a sociedade cresce quando a sucessão depende menos de debate e mais de articulação silenciosa.

Berdeal ampliou apoios ao distribuir benefícios legais, intensificou a presença no interior com o Conecta e estreitou laços com o Palácio Anchieta. O governador Renato Casagrande, responsável pela escolha final, já demonstrou em 2024 que não se sente obrigado a prestigiar o mais votado. O peso político manda mais que o voto da categoria.

Os possíveis adversários — Maria Clara Perim, Pedro Ivo e Danilo Raposo — avaliavam o cenário, mas nenhum demonstrou vontade firme de enfrentar o favoritismo instalado. Perim tem potencial para romper a bolha, cultiva trânsito social e interno, mas ainda hesita. Pedro Ivo, hoje mergulhado no associativismo, perdeu o timing. Raposo tenta medir o custo de um novo embate. A dúvida de todos expõe que a disputa já começa desigual.

O desgaste do mesmo grupo à frente do MPES criou um ambiente de fadiga. A instituição precisa discutir transparência, autonomia e renovação de práticas. No entanto, quem tem a caneta continua avançando sem resistência relevante. Ao fim, a eleição de março tende a reforçar a leitura de que o sistema reage para preservar a si mesmo.

Se nada mudar, Berdeal será reconduzido. Não pelo mérito isolado, mas porque construiu uma rede de conveniências que o mantém no centro das decisões. A classe parece resignada. A sociedade observa de longe. E o MPES, novamente, se prepara para repetir a própria história.