ES cria parque para proteger ave mais ameaçada do Brasil

Novo parque de conservação em Vargem Alta garante proteção à saíra-apunhalada e a mais de 30 espécies sob risco, reforçando a conservação da Mata Atlântica

- Parque é criado para proteger a saíra-apunhalada (Nemosia rourei), uma das aves mais ameaçadas do mundo. Foto: Governo do ES

Por Thamiris Guidoni

O Governo do Espírito Santo oficializou, na última segunda-feira (1º), a criação do Parque Estadual Saíra-Apunhalada (PESA), por meio do Decreto nº 6251-R, de 28 de novembro de 2025. A nova Unidade de Conservação de Proteção Integral está situada em Vargem Alta, possui 234,667 hectares e representa um marco ambiental: há 15 anos o Estado não instituía uma área de proteção integral.

A iniciativa responde a uma das maiores urgências ambientais capixabas: a preservação da saíra-apunhalada (Nemosia rourei), espécie endêmica e considerada uma das aves mais ameaçadas do mundo. Restam apenas 22 indivíduos conhecidos, cerca de 70% deles vivem em propriedades privadas sem proteção ambiental e sob forte pressão humana, como mineração, exploração ilegal de madeira e coleta de palmeiras.

áreas de Castelo, Domingos Martins e Vargem Alta. Apesar de sua relevância biológica, a região enfrenta riscos crescentes. A criação do PESA surge como medida estratégica para conter ameaças e garantir condições para a recuperação populacional da espécie.

Além da ave que dá nome ao parque, a área reúne 14 espécies de fauna ameaçadas de extinção, como a abelha-uruçu-capixaba, o bagre-de-caetés, o sapinho-de-ouro, o cágado-da-serra, o gavião-pombo-pequeno, o apuim-de-costas-pretas, a araponga e o papo-branco. Mamíferos raros também estão presentes, entre eles o sagui-da-serra, o sauá, a preguiça-de-coleira e o ouriço-preto.

No campo da flora, já foram registradas 17 espécies ameaçadas, incluindo a Philodendron vargealtense, classificada como Criticamente Ameaçada (CR). Somadas fauna e flora, são 31 espécies sob risco, reforçando a importância ecológica da área agora protegida.

Objetivos do PESA

A nova unidade de conservação tem como metas:

  • Proteger uma amostra representativa da Mata Atlântica, especialmente a porção da Mata de Caetés;
  • Garantir a integridade dos habitats essenciais à saíra-apunhalada e a outras espécies ameaçadas;
  • Proteger recursos hídricos, nascentes e áreas de recarga do Ribeirão Caetés, afluente do Rio Itapemirim;
  • Preservar processos ecológicos e serviços ambientais;
  • Permitir o uso público sustentável, com ações de educação ambiental, ecoturismo controlado e observação da natureza.

Para assegurar a proteção integral da área, imóveis rurais dentro dos limites do parque serão desapropriados pelo Governo do Estado, sob responsabilidade do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), que também fará a gestão e implementação do PESA.

O decreto institui ainda o Conselho do Parque Estadual Saíra-Apunhalada, de caráter consultivo, cuja composição será definida pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama). O colegiado terá participação social e institucional, seguindo diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

O secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Felipe Rigoni, destacou a urgência da medida diante do risco extremo de extinção da espécie.

“Diante da urgência envolvendo a proteção da mais representativa população da saíra-apunhalada, é de eminentíssimo interesse do Governo do Estado fornecer instrumentos legais capazes de salvaguardar essa espécie da extinção. A criação do parque garante não apenas proteção física, mas também caminhos de preservação a partir da educação ambiental e do engajamento social.”

O subsecretário de Estado de Bem-Estar Animal e Projetos Prioritários, Victor Ricciardi, reforçou os benefícios da criação da UC para a preservação integrada.

“A criação de um parque permite uma abordagem equilibrada entre conservação, pesquisa, educação ambiental e ecoturismo controlado. Esse modelo fortalece a participação da comunidade e gera benefícios econômicos, ao mesmo tempo em que assegura a preservação de espécies altamente ameaçadas em uma região sujeita a pressões ambientais constantes.”

Com a criação do PESA, o Espírito Santo potencializa o compromisso com a proteção da Mata Atlântica e de espécies únicas no planeta. O decreto marca a retomada de políticas robustas de conservação e representa um passo determinante para evitar a extinção de uma das aves mais raras e emblemáticas do Brasil.

FONTE: ES BRASIL