O varejo brasileiro atravessa uma ruptura estrutural comparável à passagem do analógico para o digital. Enquanto milhares de lojas físicas encerram atividades nos últimos anos, o mercado online avança em ritmo acelerado, impulsionado pela mudança de comportamento do consumidor, pela consolidação de marketplaces e pelo barateamento da tecnologia.
As estatísticas oficiais mostram que o comércio eletrônico já não é mais um complemento: tornou-se o principal motor de crescimento do varejo nacional, movimentando cifras bilionárias e redesenhando o ambiente competitivo.
E-commerce supera a barreira dos R$ 200 bilhões
Dados consolidados de ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) e Ebit/Nielsen registram:
- 2023: R$ 185,7 bilhões
- 2024: R$ 205,5 bilhões
- 2025 (projeção oficial ABComm): R$ 226 bilhões
- Crescimento médio anual: entre 12% e 18%
O Brasil já ultrapassou 360 milhões de pedidos em 2024, com ticket médio de R$ 420.
É a maior expansão da história do setor, consolidando o país como o 10º maior mercado de e-commerce do mundo.
Enquanto isso, lojas físicas encerram atividades
Segundo o CNC – Confederação Nacional do Comércio, o setor físico vive o maior encolhimento desde 2016:
- Mais de 92 mil lojas fecharam entre 2020 e 2024.
- Em 2024, cerca de 22 mil estabelecimentos encerraram atividades formais.
- Pequenos e médios empresários concentram 78% desses fechamentos.
Os motivos se repetem:
- custo operacional crescente (aluguel, energia, folha);
- queda do fluxo de clientes presenciais;
- competição agressiva de marketplaces;
- digitalização acelerada do consumidor.
A migração do consumidor: dados mostram a virada definitiva
O Brasil tornou-se um país prioritariamente digital no varejo:
- 74% dos brasileiros compram pela internet regularmente (Ebit).
- Entre jovens de 16 a 34 anos, o índice chega a 91%.
- 59% preferem marketplaces como Mercado Livre, Shopee, Amazon e Magalu.
- Compras por celular já representam 87% do total.
O consumidor não abandonou apenas as lojas de bairro: ele mudou de rotina, incorporando o hábito digital a compras de supermercado, farmácia, vestuário e serviços.
Um processo natural de transição — como o do analógico para o digital
Especialistas em economia descrevem o fenômeno como um ponto de inflexão, similar ao que ocorreu:
- com o fim das locadoras e o crescimento do streaming;
- com o abandono do banco físico e o avanço dos bancos digitais;
- com a substituição do dinheiro em papel pelo pagamento eletrônico;
- com a migração da mídia impressa para o conteúdo digital.
Agora, o varejo vive a mesma transformação:
o modelo tradicional não desaparece, mas deixa de ser dominante.
O comércio físico tende a se concentrar em:
- serviços de experiência;
- produtos de alto valor agregado;
- lojas-conceito e showrooms;
- setores onde o toque e a experimentação são decisivos.
Já o e-commerce absorve:
- consumo de massa,
- itens de reposição,
- compras por impulso,
- produtos de giro rápido.
Participação digital no varejo total
Projeções da McKinsey e da Fecomercio-SP:
- 2020: 9,7% do varejo brasileiro era online
- 2024: 14,4%
- 2025: deve chegar a 16%
- 2030: poderá atingir 25%
É o maior salto entre todas as economias emergentes.
Conclusão: uma mudança irreversível
O fechamento de lojas físicas não é apenas um efeito econômico: é o resultado de uma mudança estrutural de comportamento.
O comércio online tornou-se o epicentro do varejo brasileiro, e a curva aponta para um cenário onde o digital será não apenas dominante, mas talvez o novo padrão universal — tal como ocorreu com a transição do analógico para o online em outras áreas.
A economia se adapta. Os consumidores já se ajustaram.
Agora, o varejo físico precisa encontrar seu novo papel nessa era completamente digital.
