Bispo de Cachoeiro pede R$ 30 mil de indenização após ser chamado de “comunista” por fiel

A eterna divisão entre conservadores e progressistas volta a explodir dentro da Igreja

Foto ilustração -

O bispo de Cachoeiro de Itapemirim, Dom Luiz Fernando Lisboa, abriu uma ação judicial pedindo R$ 30 mil de indenização contra a fiel Mayla Picoli, que o chamou de “comunista” em uma publicação de rede social. O episódio reacende uma das tensões mais antigas da Igreja Católica: o conflito permanente entre alas conservadoras e progressistas.

A iniciativa do bispo transformou um comentário virtual em disputa de Justiça. Dom Luiz Fernando afirma que sofreu dano moral, enquanto entre fiéis cresce a percepção de que houve exagero e sensibilidade desmedida. Para muitos cristãos da região, recorrer ao Judiciário para responder a uma crítica ideológica demonstra desconforto com o debate interno que sempre marcou a vida da Igreja.

A polarização não é novidade. Desde os anos 70, com o avanço da Teologia da Libertação, passando pelo endurecimento conservador nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, até a guinada pastoral e social do Papa Francisco, a Igreja vive um ciclo constante de tensão entre diferentes interpretações do Evangelho e de sua atuação no mundo. O caso envolvendo Dom Luiz Fernando e Mayla Picoli apenas revela que, no Brasil, essa cisão está mais acentuada do que nunca.

O valor solicitado pelo bispo, R$ 30 mil, provocou imediatas comparações simbólicas entre os próprios católicos. Muitos lembraram artigos históricos do jornalista Jackson Rangel na FOLHA DO ES, que frequentemente denunciavam contradições morais do clero quando este se envolve em disputas de poder. A ironia foi inevitável: as “30 moedas de prata” recebidas por Judas ao trair Jesus tornaram-se a imagem mais repetida entre fiéis que criticam a postura do episcopado.

Para parte da população católica de Cachoeiro, o gesto do bispo representa mais do que uma tentativa de reparação. Ele expõe uma fragilidade institucional diante da crítica e um afastamento do espírito cristão que sempre lidou com divergências doutrinárias sem acionar tribunais seculares. A fé atravessou séculos de perseguições, conflitos internos e debates teológicos intensos. Hoje, contudo, parece não suportar um comentário no Facebook.

O processo seguirá seu trâmite. A opinião pública, porém, já reagiu antes da Justiça: houve desproporção. Quando um pastor cobra R$ 30 mil por ter sido chamado de “comunista”, a metáfora das 30 moedas se impõe quase naturalmente. E ela pesa — muito mais do que qualquer rótulo ideológico.