A prisão preventiva de Jair Bolsonaro expôs com brutalidade o avanço de um poder que, na prática, já ultrapassou os limites constitucionais e assumiu contornos de uma ditadura judicial. A decisão, além de politicamente explosiva, reacende a discussão sobre o uso seletivo da Justiça como instrumento de controle político. O país voltou ao noticiário internacional exatamente por aquilo que mais tenta esconder: a deterioração acelerada da independência entre os poderes e o uso expansivo do Judiciário para disciplinar adversários e influenciar o debate público.
No cenário interno, a medida ampliou a percepção de que decisões judiciais deixaram de se sustentar apenas em fundamentos técnicos e passaram a carregar forte orientação política. A prisão preventiva, aplicada a um ex-presidente sem condenação definitiva e em processos que se arrastam há anos, passa a impressão de punição antecipada. A consequência disso é devastadora porque corrói a confiança no sistema e alimenta a ideia de que o Judiciário passou a atuar como protagonista político e não como árbitro institucional.
No campo internacional, a repercussão também aponta para um Brasil que parece reviver velhas práticas autoritárias, só que agora revestidas de legalidade. Analistas estrangeiros demonstram preocupação com o uso expansivo de medidas excepcionais, cada vez menos justificadas em fatos concretos e cada vez mais associadas à disputa ideológica doméstica. A imagem de um país disposto a encarcerar seus líderes políticos sem o devido amadurecimento das provas desperta dúvidas sobre a solidez democrática brasileira e eleva o risco de se consolidar a percepção de que a Justiça do país deixou de ser apenas um poder e se tornou uma força política autônoma.
O avanço dessa ditadura judicial se manifesta na normalização de decisões monocráticas, na falta de freios institucionais e na ausência de mecanismos reais de controle. A cada nova medida, o Judiciário amplia sua zona de poder enquanto Legislativo e Executivo assistem à expansão silenciosa de uma autoridade que não se submete ao voto, à crítica ou à alternância. A prisão preventiva de Bolsonaro torna-se, portanto, mais do que um episódio jurídico. Ela funciona como símbolo de um sistema que mudou de eixo e passou a operar por critérios que escapam à transparência e ao escrutínio público.
O Brasil se vê diante de uma encruzilhada histórica. Ou resgata o equilíbrio entre os poderes e reconstrói a confiança nas instituições ou se acostuma com a consolidação de um regime em que juízes e tribunais ocupam o espaço deixado por uma política enfraquecida. A prisão do ex-presidente, nesse contexto, deixa de ser um caso isolado e passa a representar a face mais visível de um processo que ameaça corroer as bases do Estado democrático de Direito.