Muitas espécies de animais são conhecidas por aí, mas a natureza é uma caixinha de surpresas. Entre os aracnídeos mais curiosos, está um nativo da China: a aranha biscoito oreo (Cyclocosmia ricketti). O apelido faz referência ao abdômen do animal, semelhante à guloseima de chocolate e recheio de baunilha.

A espécie pode ser encontrada no sul e na parte central do país asiático. No entanto, não é tão fácil assim encontrá-la, visto que a aranha costuma se esconder em sua toca. Não há registros dela no Brasil.

Se engana quem pensa que o formato do abdômen não serve para muita coisa. Na verdade, a estrutura arredondada funciona como “tampa” ou uma “porta-blindada” para suas tocas cavadas verticalmente em profundidades entre 7 e 15 cm. Em alguns casos, elas servem também para caçar outros animais.

“Quando ameaçada, ela se recolhe para dentro da toca. Encosta a parte traseira do corpo na abertura, encaixando o disco abdominal perfeitamente na entrada. O disco é extremamente duro e suas bordas irregulares tornam quase impossível para um predador arrancá-la dali”, explica a bióloga Nancy Lo Man Hung, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).

No entanto, nem sempre a defesa funciona. Quando as aranhas descuidam da entrada do esconderijo, elas podem ser atacadas, principalmente pelas vespas caçadoras (Pompilidae), conhecidas por usar veneno para paralisar aracnídeos e parasitá-los posteriormente.

“As vespas entram nas tocas das aranhas e as buscam ativamente, removendo-as do local”, aponta o aracnólogo Luiz Antônio Silva Marques, do Laboratório de Aracnídeos da Universidade de Brasília (UnB).

Alimentação da aranha biscoito oreo

Apesar do apelido de biscoito, o cardápio da aranha é baseado em pequenos insetos e artrópodes. Há dois modos de ataque principais: o primeiro é quando o animal avista alguma “comida” e ataca com velocidade, puxando-a em direção ao esconderijo para se alimentar. Já o outro está mais ligado à desatenção da presa.

“O formato peculiar da região posterior do abdômen possui a função de auxiliar na captura das presas. Ela espera pacientemente em sua toca subterrânea por uma vítima desavisada passar [pela tampa da toca], para então atacar e arrastá-la para dentro”, exemplifica o professor de biologia Flávio Araújo, do Colégio Marista João Paulo II, em Brasília.

Encontrei uma aranha dessas, devo temer?

A maioria das aranhas é venenosa e a Cyclocosmia ricketti não é diferente. O veneno ajuda na imobilização e digestão das presas. No entanto, a espécie não representa grande perigo para humanos e é considerada inofensiva. Além de ser dificilmente encontrada e ter comportamento dócil, seu líquido tóxico é adaptado para animais menores.

Diferente de espécies mais agressivas, quando manipulada, a aranha de tamanho pequeno a médio prioriza fugir e se esconder ao invés de picar. “Suas quelíceras (presas) são relativamente pequenas e a posição dificulta a perfuração da pele humana com eficácia”, diz Nancy.

Situação da aranha e como protegê-la

De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), a aranha não está na lista vermelha de ameaça de extinção. “Se trata de uma espécie não encontrada em ambientes urbanos e rara, com poucos representantes em coleções”, afirma o aracnólogo.

Por outro lado, a destruição de habitat causada por mudanças climáticas, uso de pesticidas e poluição do solo podem mudar a situação futuramente. O comércio indiscriminado de animais exóticos também pode atrapalhar a sobrevivência da aranha biscoito oreo. Medidas de preservação e conscientização são essenciais para que a aranha tenha paz na natureza chinesa.

FONTE: METROPOLES