O Espírito Santo terminou 2024 com um retrato vergonhoso e alarmante da relação entre motoristas e consumo de álcool. O que deveria ser uma exceção virou comportamento repetido. Os números do ano mostram uma escalada contínua de acidentes envolvendo condutores alcoolizados, começando em 295 registros em janeiro e saltando para 402 em dezembro. Em vez de recuar, a curva subiu sem interrupção. Essa progressão é a face estatística da irresponsabilidade social.
O mais grave é que 2024 poderia ter sido um ponto de inflexão. As campanhas estavam nas ruas, a fiscalização foi reforçada, os alertas se multiplicaram. Ainda assim, os índices cresceram mês após mês. Isso aponta para uma verdade incômoda. O problema não é apenas de polícia. É cultural. O capixaba ainda trata o volante com soberba e o álcool com indulgência. A combinação dos dois é vista quase como um ritual social normal, e não como um crime que ceifa vidas e destrói famílias.

Os números de mortes também tiram qualquer romantização. Em fevereiro foram 14 vidas perdidas. Em dezembro, 29. Cada número representa um drama irreparável, mas a sociedade insiste em relativizar. Quando a desculpa vira hábito, quando a imprudência vira rotina e quando a fiscalização vira mera barreira a ser driblada, significa que estamos diante de um problema muito maior do que acidentes. Estamos diante de uma crise ética de comportamento no trânsito.
O Espírito Santo nunca esteve tão equipado para combater a condução alcoolizada, mas nunca foi tão derrotado por ela. O ano de 2024 mostrou que educação de trânsito, sozinha, não está surtindo efeito. É preciso punição real, blitz permanentes e, acima de tudo, intolerância social. A permissividade mata. A conivência mata. E a omissão institucional também.
Se 2024 serviu para algo, foi para expor o fracasso coletivo. Não há como seguir normalizando a “bebida inocente” que antecede a tragédia. Ou o Estado e a sociedade rompem esse ciclo, ou 2025 será apenas mais um capítulo do mesmo roteiro sangrento que insiste em se repetir nas ruas capixabas.
Acidentes envolvendo motoristas alcoolizados no ES – 2024
• Janeiro: 295
• Fevereiro: 288
• Março: 310
• Abril: 305
• Maio: 318
• Junho: 330
• Julho: 342
• Agosto: 355
• Setembro: 366
• Outubro: 379
• Novembro: 395
• Dezembro: 402
Mortes registradas variaram de 14 a 29 ao longo do ano.