Durante décadas, a corrupção foi o eixo central do jornalismo investigativo e da política nacional. Era o tema que mobilizava repórteres, tribunais e a opinião pública. De repente, sumiu. A pauta que antes dominava manchetes e CPIs, hoje se dissolveu em meio ao barulho das redes e à perseguição às chamadas “fake news”. Curiosamente, trata-se de um crime que não está nem previsto em lei, mas ganhou status de ameaça máxima à democracia, ocupando o espaço que antes era da corrupção.
Essa inversão de valores tem efeitos devastadores. Ao deslocar o foco para a criminalização da opinião e da informação, desvia-se a atenção das mazelas reais da gestão pública. A corrupção, que corrói o erário e destrói a confiança social, foi varrida para baixo do tapete. Os órgãos de controle perderam protagonismo, os escândalos se tornaram assuntos burocráticos e o combate à impunidade parece um tema fora de moda.
Hoje, quase não se vê a palavra “corrupção” nas manchetes dos grandes jornais ou portais de notícias. O silêncio é ensurdecedor. Vivemos tempos estranhos, em que a manipulação informativa virou o bode expiatório ideal para abafar o verdadeiro câncer nacional. Pior: quando alguém ousa denunciar um caso de corrupção, a reação imediata é carimbar a denúncia como “fake news”.
O Brasil trocou o debate sobre moralidade pública por uma cruzada seletiva contra opiniões inconvenientes. É o triunfo da hipocrisia institucional. Enquanto isso, os cofres públicos continuam sendo saqueados, e o povo, enganado — agora com o selo de “verdade oficial”.