O Banestes, banco estatal do Espírito Santo, é um dos raros sobreviventes do ciclo de privatizações que varreu o país desde os anos 1990. Enquanto bancos estaduais de grandes praças – como o Banespa (SP), Banerj (RJ) e Bemge (MG) – foram vendidos para instituições privadas, o banco capixaba resistiu a todas as investidas.
A razão vai muito além da economia: o Banestes se transformou em símbolo de identidade e autonomia financeira do povo capixaba.
Patrimônio do Espírito Santo
Fundado em 1937, o Banestes se consolidou como o braço financeiro do Governo do Estado, operando a folha do funcionalismo, recolhendo tributos e repassando recursos aos municípios.
Sua presença em todos os 78 municípios e a capacidade de gerar lucros anuais superiores a R$ 300 milhões o tornaram peça estratégica da economia local.
Mesmo durante períodos de crise, o banco apresentou solidez e credibilidade, o que enfraqueceu os argumentos liberais de que seria “ineficiente” ou “deficitário”.
Privatização: o tema que nunca passou da promessa
Desde o final dos anos 1990, diversos governadores tentaram colocar o Banestes na lista de privatizações, mas nenhum conseguiu apoio suficiente na Assembleia Legislativa nem consenso popular.
As resistências sempre vieram de três frentes:
- Funcionários e sindicatos, liderados pela Associação dos Funcionários do Banestes (AFBES);
- Parlamentares, inclusive de base governista, que evitavam o desgaste político;
- População, que via o banco como símbolo da independência econômica capixaba.
O resultado foi uma sucessão de recuos, até o Banestes ser incorporado à narrativa de “orgulho estadual”, com discurso de gestão eficiente e moderna, sem depender da iniciativa privada.
Bastidor político
Governadores como Paulo Hartung e Renato Casagrande chegaram a encomendar estudos técnicos e sondagens de mercado sobre o valor do Banestes, mas ambos recuaram diante da resistência política e da boa performance financeira do banco.
Mesmo o governo Vitor Buaiz, em meados de 1996, discutiu a venda em meio à pressão do PROES (Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária), criado pelo governo federal para estimular a liquidação ou privatização de bancos estaduais endividados.
No entanto, o Banestes era um dos poucos que não dependia de socorro federal – e isso foi determinante para sua sobrevivência.
Linha do Tempo das Tentativas de Privatização do Banestes
| Ano | Governador | Contexto e Resultado |
|---|---|---|
| 1995–1998 | Vitor Buaiz (PT) | Sob pressão do PROES, avaliou a privatização. A boa saúde financeira do Banestes evitou adesão ao programa federal. |
| 1999–2002 | José Ignácio Ferreira (PSDB) | Liberal na economia, defendeu publicamente a venda parcial do banco. Resistência sindical e falta de apoio político inviabilizaram o projeto. |
| 2003–2010 | Paulo Hartung (PSB/PMDB) | Cogitou vender parte das ações do Estado. Após estudos, recuou por risco político e reconhecimento da utilidade estratégica do banco. |
| 2011–2014 | Renato Casagrande (PSB) | Discurso de modernização, não de venda. Fortaleceu a governança e o papel social do banco. |
| 2015–2018 | Paulo Hartung (PMDB) (2º ciclo) | Novo debate sobre fusão com o Banestes Seguros e racionalização de ativos. Privatização descartada por falta de viabilidade política. |
| 2019–2022 | Renato Casagrande (PSB) (2º mandato) | Manteve linha de estabilidade e digitalização. Enfatizou o papel do Banestes como banco de fomento estadual. |
| 2023–2025 | Renato Casagrande / Ricardo Ferraço (PSB–MDB) | Tema praticamente sepultado. O banco é considerado um ativo estratégico e símbolo da boa gestão financeira capixaba. |
Mais que um banco: uma bandeira
A sobrevivência do Banestes é, em parte, um ato político e cultural. Num estado historicamente marcado pela prudência fiscal, manter o banco público tornou-se demonstração de independência e maturidade institucional.
“Enquanto outros estados venderam seus bancos por desespero, o Espírito Santo mostrou disciplina fiscal e manteve seu patrimônio”, resume um economista ligado ao setor público.
O Banestes, que completará 88 anos em 2025, segue sendo um dos poucos bancos estaduais do Brasil — e o mais sólido fora do eixo Sul-Sudeste.
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