Pela primeira vez, o IBGE revelou que os casamentos informais superaram os formais no Brasil. O que antes era exceção, viver junto sem casamento civil ou religioso, tornou-se regra. Mais de 38% dos casais brasileiros vivem em união consensual, ultrapassando os matrimônios reconhecidos oficialmente.
Esse dado vai muito além de um comportamento demográfico: é um retrato cultural da época. A geração atual evita o compromisso formal como quem foge de uma armadilha. O “para sempre” virou uma utopia descartável.
Ao mesmo tempo, o fenômeno expõe a decadência das instituições que tradicionalmente sustentavam o conceito de família, especialmente a Igreja e seus dogmas. A religiosidade, que outrora moldava a vida social e ditava os ritos da convivência, perdeu espaço para o pragmatismo das relações líquidas.
Casar-se, hoje, soa antiquado para muitos. É mais fácil “ficar junto” sem papéis, sem promessa e sem juízo moral. Mas o custo dessa liberdade aparente pode ser alto: a fragilidade dos laços afetivos e o esvaziamento dos princípios morais e espirituais que formavam o núcleo da sociedade.
Não se trata de defender o passado por saudosismo, mas de compreender o que se perde quando tudo se relativiza, inclusive o compromisso. O Brasil, ao abandonar o altar, talvez esteja também abandonando parte de sua estrutura moral e espiritual.