Para um país dar certo, não basta cumprir meta fiscal ou equilibrar as contas públicas. É preciso um princípio básico de coerência moral: todo servidor público — sobretudo políticos, juízes, promotores e altos gestores — deveria ser obrigado a utilizar os serviços públicos que ele próprio ajuda a criar e manter.
Educação pública, saúde pública, transporte público, segurança pública. Tudo o que é bancado com o suor do contribuinte deveria ser o único universo acessível a quem vive do erário. Assim, o político que defende a “excelência” do SUS teria de tratar-se nele; o magistrado que critica a “lentidão” da Justiça sentiria na pele o peso de suas próprias decisões; o parlamentar que discursa sobre “valorização da escola pública” veria seus filhos estudando nos mesmos colégios onde faltam professores e ventiladores.
Em caso de descumprimento, o preço deveria ser alto: perda imediata de mandato ou exoneração sumária. Fraudar o sistema, por omissão, privilégio ou hipocrisia, seria crime de traição cívica.
Se essa regra existisse, o Brasil, e qualquer outro país, saltaria décadas em qualidade institucional.
Os serviços públicos seriam revolucionados em meses, porque quem detém o poder não suportaria viver sob o mesmo padrão que impõe à maioria. A distância entre o “Brasil oficial” e o “Brasil real” se estreitaria.
Hoje, vivemos num país de cidadãos de primeira, segunda e terceira classe. Os que mandam usufruem de hospitais privados, escolas bilíngues e planos de saúde milionários, enquanto o povo enfrenta filas, buracos e descaso. É um assinte à dignidade dos contribuintes.
Enquanto houver duas realidades, uma para quem governa e outra para quem é governado, o Brasil continuará sendo uma nação dividida: rica em recursos, pobre em justiça.