Amazonas Equatorial: o paradoxo ambiental do Brasil

Autorização para exploração na Margem Equatorial expõe incoerência do governo às vésperas da COP em Belém.

Nas últimas décadas, o Brasil tem se apresentado ao mundo como guardião da Floresta Amazônica, destacando seu papel estratégico na mitigação das mudanças climáticas e na preservação da biodiversidade. No entanto, as recentes decisões do governo federal — respaldadas por grupos políticos — revelam um paradoxo inquietante entre o discurso ambientalista e a prática política.  

Enquanto autoridades brasileiras discursam em fóruns internacionais exigindo compensações financeiras dos países mais poluentes para preservar o bioma amazônico, internamente o país trilha um caminho contraditório. A autorização concedida pelo Ibama à Petrobras para explorar petróleo na Margem Equatorial — uma região sensível e rica em biodiversidade — é um exemplo emblemático dessa incoerência. A decisão, claramente impulsionada por interesses econômicos imediatistas, compromete a imagem do Brasil às vésperas da conferência do clima da ONU, que será sediada em Belém.  

A contradição é evidente: como pode um país que se autoproclama defensor da Amazônia insistir na exploração de combustíveis fósseis em uma de suas áreas mais frágeis? A retórica ambiental perde força diante de ações que reproduzem os mesmos padrões de exploração predatória que o Brasil tanto critica em outras nações.  

Justificativa de que os recursos oriundos do petróleo trarão desenvolvimento à região amazônica soa como um discurso demagógico e ultrapassado. A comparação com países vizinhos que também exploram petróleo ignora o contexto único da Amazônia brasileira e os riscos ambientais irreversíveis que essa atividade pode causar — especialmente para comunidades indígenas e ecossistemas marinhos.  

Ademais, a possibilidade de derramamento de petróleo em áreas sensíveis, habitadas por povos originários e ricas em biodiversidade, não pode ser tratada como efeito colateral aceitável.  

O presidente Lula precisa equilibrar o seu discurso e ser coerente entre o que diz e o que faz. Condenar países poluidores e autorizar exploração de petróleo no país são contradições graves. 

Assim, é urgente que o país invista em fontes de energia limpas, renováveis e sustentáveis. O Brasil possui potencial inigualável em energia solar, eólica e biomassa. Insistir em uma matriz energética baseada em petróleo é não apenas ambientalmente irresponsável, mas economicamente míope diante das transformações globais rumo à descarbonização.  

Se o Brasil deseja ser protagonista na agenda climática global, precisa alinhar seu discurso às suas ações. Defender a Amazônia não pode ser somente uma bandeira diplomática — deve ser um compromisso ético, ambiental, exemplar e civilizatório.