Divagação do TDAH pode impulsionar criatividade, sugere estudo europeu

Pesquisa apresentada em congresso europeu indica que a mente mais dispersa de quem tem TDAH pode favorecer ideias originais e inovadoras

- Jacob Wackerhausen/Getty Images

Uma nova pesquisa apresentada no 38º Congresso Anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP) apontou que o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) pode estar ligado a níveis mais altos de criatividade.

Segundo os cientistas, a tendência à divagação mental, quando a mente se afasta do foco principal e passeia por outros pensamentos, parece ter papel importante nessa conexão.


O que é o TDAH?

  • O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por desatenção, impulsividade e hiperatividade.
  • Ele pode afetar crianças, adolescentes e adultos, impactando o desempenho escolar, profissional e os relacionamentos interpessoais. Por isso, o diagnóstico precoce e correto é essencial para evitar prejuízos emocionais e sociais a longo prazo.
  • O tratamento pode incluir psicoterapia, medicamentos e mudanças comportamentais para melhorar a qualidade de vida. Sem tratamento adequado, o TDAH pode aumentar o risco de ansiedade, depressão, dificuldades no trabalho e de baixa autoestima.

Os resultados marcam a primeira vez que pesquisadores explicam como o TDAH e a criatividade se relacionam. O trabalho foi conduzido por Han Fang, do Centro Médico Universitário Radboud, na Holanda, e envolveu 750 participantes de dois grupos diferentes, um europeu e outro do Reino Unido.

Mente que divaga, ideias que florescem

Os pesquisadores observaram que pessoas com traços mais intensos de TDAH, como desatenção, impulsividade e dificuldade de manter o foco, também relataram maior frequência de divagação mental.

Esse comportamento foi dividido em dois tipos: o espontâneo, quando a atenção se dispersa sem controle, e o deliberado, quando o indivíduo permite conscientemente que o pensamento siga outros caminhos.

A equipe utilizou testes padronizados para avaliar a criatividade dos participantes, pedindo, por exemplo, que encontrassem novos usos para objetos comuns. Os resultados mostraram que pessoas com mais características do TDAH alcançaram pontuações mais altas em realizações criativas, especialmente quando apresentavam o tipo deliberado de divagação mental.

De acordo com Fang, a descoberta sugere que a mente que divaga pode ser, em certos contextos, uma aliada da originalidade. “A divagação mental deliberada parece ajudar as pessoas com TDAH a transformar pensamentos soltos em ideias criativas”, explicou o pesquisador em comunicado.

Possíveis aplicações no tratamento e na educação

Os autores acreditam que os achados podem ter implicações práticas tanto na psicoeducação quanto no tratamento. Programas voltados a ensinar pessoas com TDAH a aproveitar suas ideias espontâneas e transformá-las em resultados criativos podem ampliar o potencial desses indivíduos.

O estudo também aponta que intervenções baseadas em mindfulness, adaptadas ao TDAH, poderiam ajudar a reduzir a divagação espontânea e direcionar melhor os pensamentos, equilibrando criatividade e foco.

FONTE: METRÓPOLES