Ratos de asas? Entenda se a presença de pombos é sinal de sujeira

Chamados por alguns de “ratos de asas”, os pombos têm a fama por viver em locais insalubres, perto de lixo, vermes e fezes

- Altaf Shah / 500px/Getty Images

Não é incomum estar andando na rua e se deparar com pombos urbanos (Columba livia). Os animais costumam andar em bandos e sempre estão à espreita para conseguir sobras de comidas para encher a barriga. Originalmente, eles são nativos de regiões na Europa, Ásia, África e Oriente Médio e foram levados para vários lugares do mundo na época das guerras, quando serviam como pombos-correio ou até alimento.

Presentes até hoje em nosso cotidiano, são muito associados à sujeira. No entanto, especialistas entrevistados pelo Metrópoles afirmam que o estereótipo não é totalmente verdadeiro.

“Na verdade, o estigma de ‘animal impuro’ deriva mais de questões estéticas e sanitárias do que biológicas”, defende a professora de ciências biológicas Eduarda Pelizzari Camilo, do Colégio Católica Curitiba (PR).

A fama dos pombos está ligada principalmente por sua moradia: locais insalubres, próximos a lixos, com muita presença de microrganismos, vermes e fezes. O biólogo Fabrício Escarlate diz que essas características dão “pano para manga” na discussão se os animais são sujos ou não.

“Muita gente, inclusive, se refere a eles como ‘ratos com asas’. A expressão, embora pareça exagerada, tem algum fundamento. Os pombos ocupam nichos semelhantes aos dos ratos, mas com hábitos diferentes”, aponta o professor do Centro Universitário de Brasília (Ceub).

Por que existem tantos pombos em ambientes urbanos

Originalmente, pombos vivem em falésias ou regiões rochosas, porém algumas características biológicas e comportamentais os tornam animais extremamente adaptáveis a qualquer ambiente, como os centros urbanos. Veja abaixo as principais:

Facilidade para conseguir alimento

Os pombos fazem parte do grupo de aves onívoras oportunistas, ou seja, estão sempre atentos a sobras de alimentos humanos, como grãos, sementes, frutas e outras comidas. Eles podem até consumir resíduos não alimentares, o que lhes garante ampla disponibilidade de recursos alimentares.

“Além disso, possuem grande capacidade de voo e orientação espacial, o que facilita a busca por abrigo e alimento em áreas extensas”, diz Eduarda.

Boa adaptabilidade nas cidades

A arquitetura urbana apresenta ótimos atributos para sua presença: ao invés de criar ninhos em fendas e rochas, os prédios e marquises servem como moradia. No entanto, Escarlate ressalta que não são todas as regiões em que os pombos prevalecem.

“Em áreas rurais ou naturais, a presença de pombos é muito menor, já que ali precisam competir com espécies nativas. E eles não são bons competidores”, afirma o docente.

Imagem colorida mostra pombos se alimentando na rua - Metrópoles
A disponibilidade de alimentos ajuda na sobrevivência de pombos nos centros urbanos

Reprodução acelerada

Como atingem a maturidade sexual com apenas cinco a sete meses de idade, os animais podem se reproduzir várias vezes durante o ano. A fartura de comida e ausência de predadores também favorecem a disseminação dos pombos.

“Cada postura contém geralmente dois ovos, que são incubados por cerca de 18 dias. Os filhotes permanecem no ninho aproximadamente um mês e logo tornam-se independentes, permitindo que o ciclo reprodutivo recomece rapidamente. O cuidado biparental, em que tanto o macho quanto a fêmea alimentam os filhotes com o chamado ‘leite de papo’, também aumenta a taxa de sobrevivência dos pombinhos”, destaca Eduarda.

Pombos são considerados riscos à saúde?

Sim. Porém, os riscos a humanos dependem da exposição e condições ambientais. Por exemplo, em ambientes onde há o acúmulo de fezes secas, ocorre a proliferação de fungos e bactérias que causam doenças, como histoplasmose e criptococose. Microrganismos ligados à salmonella também podem causar infecções gastrointestinais em caso de contato com alimentos ou superfícies.

Ninhos de pombos também podem ser um ótimo abrigo para piolhos, ácaros e ectoparasitas. “Apesar disso, o risco de infecção é geralmente baixo para pessoas saudáveis e ocorre principalmente em locais com grande acúmulo de fezes ou contato prolongado com aves”, afirma Eduarda.

Atualmente, o controle da população dessas aves virou um problema de saúde pública. Para resolver a situação, é necessária a adoção de medidas sanitárias, ambientais e éticas, incluindo a restrição de alimentos, vedação de locais que servem como ninhos, utilização de barreiras físicas e implementação de programas de controle populacional.

FONTE: METROPOLES