
A estiagem severa que atinge o Espírito Santo tem provocado uma queda preocupante na vazão do Rio Doce, principal curso d’água que corta o Noroeste capixaba e abastece municípios como Colatina, Baixo Guandu e Linhares.
Dados recentes indicam que o rio opera com cerca de 30% da vazão média esperada, uma das menores já registradas nos últimos anos. Em alguns trechos, como em Colatina, a profundidade chegou a apenas 1 metro, o que tem causado apreensão entre especialistas e moradores ribeirinhos.
Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), o fenômeno é resultado de uma combinação de fatores.
A falta de chuvas — intensificada pelo fenômeno La Niña, que reduz as precipitações no Sudeste — se somou a anos de degradação ambiental, desmatamento nas margens e uso intensivo dos recursos hídricos por parte de atividades agrícolas e industriais.

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Outro agravante é o assoreamento do leito do rio, causado pela deposição de sedimentos e pela erosão do solo, o que diminui sua profundidade e a capacidade de transporte de água. Além disso, muitas nascentes estão fragilizadas e correm o risco de secar até 2030 se não houver recuperação das áreas de recarga.
O cenário hidrológico atual é crítico. Em 2023, a vazão média do Rio Doce era de 296 m³/s. Já em 2024, o índice despencou para 171 m³/s — uma redução superior a 40%, segundo levantamento da Agência Nacional de Águas (ANA).
Em determinados períodos, os registros chegaram a marcar 90 m³/s, especialmente entre julho e setembro, meses tradicionalmente mais secos, mas que neste ano foram marcados por um déficit de precipitação mais intenso.
Em Colatina, a situação tem preocupado autoridades e ambientalistas. A queda na vazão afeta diretamente o abastecimento urbano, a produção agrícola, a fauna aquática e o equilíbrio ecológico do Rio Doce.
Moradores relatam trechos do rio praticamente “divididos” por bancos de areia, algo que há anos não era visto. Em Baixo Guandu e Linhares, o nível da água também está muito abaixo do normal.
Os comitês de bacia e órgãos ambientais têm alertado para a necessidade urgente de uso racional da água, proteção das matas ciliares e recuperação de nascentes, medidas consideradas essenciais para garantir o futuro do rio.
Especialistas defendem que o enfrentamento da seca no Rio Doce vai além da chuva: requer planejamento e ações permanentes.
Projetos de reflorestamento, incentivo à agricultura sustentável e fiscalização mais rigorosa sobre o uso da água são apontados como passos fundamentais para reverter o quadro de degradação.

“Se nada for feito, as próximas gerações poderão enfrentar uma crise hídrica ainda mais grave”, alertam técnicos do CBH-Doce.
Enquanto a chuva não vem, o Rio Doce — símbolo de vida para o interior capixaba — segue agonizando, expondo bancos de areia e deixando comunidades em estado de preocupação. Em Colatina, moradores torcem para que as águas voltem a subir e devolverem ao rio a força que sempre o caracterizou.
FONTE :ES FALA