
O percarbonato de sódio – ingrediente ativo utilizado em diversos produtos de limpeza – tem ganhado cada vez mais espaço nas rotinas domésticas. À base de de oxigênio, sua função principal é atuar como um agente branqueador e oxidante, especialmente na lavagem de roupas.
A popularidade se dá também porque o percarbonato de sódio não tem cloro e é considerado menos agressivo ao meio ambiente. “As pessoas estão procurando opções mais seguras e ‘naturais’ para limpar a casa. Além disso, as redes sociais estão cheias de dicas de como usá-lo, o que aumentou ainda mais sua fama”, explica o consultor comercial da rede de franquias Multicoisas Érico de Sousa.
No entanto, assim como qualquer produto de limpeza, é necessário cuidado ao manusear o percarbonato de sódio. O coordenador do serviço de toxicologia do Hospital de Pronto-Socorro João 23, médico Adebal de Andrade, alerta que, apesar de ser considerado de baixa toxicidade, o produto possui grande poder corrosivo e de irritação.
“Quando ele está sendo manipulado e espirra, por exemplo, nos olhos, pode levar a uma lesão de córnea. Às vezes, pode ser ingerido sem querer e aí é uma situação excepcional, porque ele não é para ser ingerido, mas isso pode acontecer e aí tem uma ação tóxica”, explica.
O que fazer caso haja intoxicação?
Há muitas dúvidas sobre qual o procedimento correto em caso de intoxicação por produtos de limpeza. Adebal de Andrade revela que muitas pessoas acreditam que induzir vômito é a melhor opção nestas situações, mas ele orienta: a ação não é recomendada em nenhum caso desse tipo.
O médico aponta que, em caso de inalação do vapor, a primeira providência é sair do ambiente porque o gás se dissemina rapidamente. “Na maioria das vezes, quando é uma exposição rápida em um paciente que não tem nenhum problema respiratório, alguns minutos depois ele está assintomático. Mas em pacientes com problemas respiratórios, essa inalação pode levar a um quadro mais grave”, fala.
Ele revela ainda que o hospital João 23 possui dois números de telefone, disponíveis todos os dias 24 horas, que podem ser acionados caso a pessoa não saiba como proceder em situações de intoxicação por produtos de limpeza. São eles: (31) 3239-9308/ (31) 3224- 4000. “A mesma equipe médica que faz o atendimento presencial faz o atendimento por telefone também. Então a equipe vai orientar, falar o que pode ser feito e o que que não deve ser feito, fazendo orientações gerais”, esclarece.
O perigo das misturas
O percarbonato de sódio, quando misturado com produtos como água sanitária, cloro e até mesmo água, libera uma substância conhecida como peróxido de hidrogênio, um gás que faz parte da composição dele. “Quando inalado, esse gás pode causar queimaduras nas narinas, nas vias aéreas e levar até a casos mais graves como insuficiência respiratória, mas é um quadro raro”, conta.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orienta que o consumidor não faça “receitas” caseiras encontradas na internet. O órgão aponta que essas formulações não possuem a mesma garantia de segurança e estabilidade dos produtos industrializados e regularizados, que são testados.
De acordo com a Anvisa, a mistura inadequada, a falta de conhecimento sobre as concentrações corretas e a interação com outras substâncias podem gerar riscos à saúde e até mesmo danificar superfícies ou tecidos. Os produtos de limpeza utilizados devem ser os que são devidamente regularizados pelo órgão, por oferecerem segurança e eficácia testadas e aprovadas.
Irritações na pele
O dermatologista e titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Lucas Campos conta que o percarbonato de sódio também pode gerar irritações na pele. “Pode causar uma dermatite de contato irritativa, principalmente pelo pH (potencial hidrogeniônico) que é básico. A nossa pele, naturalmente, tem o pH levemente ácido, então substâncias que alteram o pH podem favorecer a irritação e o rompimento da barreira cutânea”, conta.
O dermatologista ressalta a importância dos cuidados ao manusear produtos de limpeza. “Tentar trabalhar sempre o produto na diluição correta, indicada pelo fabricante, para evitar concentrações muito altas. A pele deve ser protegida preferencialmente pelo uso de luvas, como é uma substância que pode volatilizar, o uso de óculos de proteção é recomendado. Além disso, sempre hidratar a pele com os cremes indicados por um dermatologista”, reforça.
Lucas Campos, que também é professor de dermatologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fala ainda que, uma vez que o produto entrou em contato com a pele, o local deve ser lavado com água corrente e de preferência com sabonete neutro. O pH do sabonete neutro é o que mais se aproxima ao da pele. Já em casos de dermatites que não melhoram, é recomendado procurar um dermatologista para que haja um cuidado direcionado para aquele paciente.
Produtos que não devem ser misturados com percarbonato de sódio
Apesar de ser um produto com baixo perigo de toxicidade, é importante saber que não se deve misturar o percarbonato de sódio com alguns produtos de limpeza e componentes. Veja quais:
- Nunca o misture com água sanitária ou cloro;
- Evite misturar com vinagre, limão ou outros produtos ácidos, pois isso faz o pó reagir de forma descontrolada, liberando muito oxigênio de uma vez;
- Não use o produto junto com amônia ou solventes fortes.
O ideal é usá-lo sozinho, sendo importante se atentar também aos cuidados no armazenamento. Manter todos os produtos de limpeza nas embalagens originais é aconselhado, caso haja mudança para outro recipiente, é necessário que seja etiquetado, indicando qual o produto presente. Além disso, é essencial armazenar os produtos longe de alimentos e fora do alcance de crianças. Essas medidas são fundamentais para evitar acidentes.
* Estagiária sob supervisão de Carla Chein
FONTE: O TEMPO