Queda de balão em Praia Grande: por que o piloto não foi indiciado?

Piloto Elves de Bem Crescêncio foi absolvido de responsabilidade pelo acidente com balão em Praia Grande

A Polícia Civil concluiu a investigação sobre a queda do balão em Praia Grande, no Extremo Sul de Santa Catarina, decidindo pelo não indiciamento do piloto Elves de Bem Crescêncio. Com base no relatório final, obtido com exclusividade pelo Jornal da Record, a reportagem apresenta os detalhes que explicam os motivos que inocentaram o piloto diante da tragédia que matou oito pessoas no dia 21 de junho.

A Polícia Civil concluiu a investigação sobre a queda do balão em Praia Grande, no Extremo Sul de Santa Catarina, decidindo pelo não indiciamento do piloto Elves de Bem Crescêncio. Com base no relatório final, obtido com exclusividade pelo Jornal da Record, a reportagem apresenta os detalhes que explicam os motivos que inocentaram o piloto diante da tragédia que matou oito pessoas no dia 21 de junho.

O balão da empresa Sobrevoar pegou fogo em pleno voo, caiu após um pouso forçado e uma nova decolagem acidental. Ao todo, 13 pessoas conseguiram deixar ou foram ejetadas do cesto na primeira queda, incluindo o piloto. Das oito que permaneceram, quatro morreram queimadas, enquanto as outras quatro saltaram e não resistiram à queda.

que a Polícia Civil investigou

O inquérito, conduzido pelo delegado Rafael de Chiara, da Delegacia de Polícia Civil de Santa Rosa do Sul e Praia Grande, buscou descobrir a causa do incêndio que provocou o acidente e se houve falha humana — dolosa (intencional) ou culposa (por negligência ou imprudência).

Foram realizadas diversas oitivas de testemunhas, de sobreviventes e do representante dos fabricantes do balão e do extintor que estava a bordo. Também foram feitas análises técnicas e de engenharia em equipamentos usados no voo, como o próprio extintor, o maçarico apontado como possível fonte da chama e até um óculos usado por uma vítima que poderia conter a gravação do acidente.

Das oito pessoas que morreram, quatro estavam carbonizadas após queda de balão em Praia GrandeDas oito pessoas que morreram, quatro estavam carbonizadas após queda de balão em Praia GrandeFoto: Divulgação/CBMSC/ND

7 perguntas e respostas sobre a queda de balão em Praia Grande

1. Como o fogo começou?

As perícias apontaram que o incêndio começou quando uma chama atingiu a capa de proteção de um cilindro de gás propano. O tecido multicamada da capa queimou rapidamente e gerou gotejamento de fogo, o que fez as chamas se espalharem de forma violenta.

2. De onde teria vindo essa chama?

A hipótese técnica mais provável é que a chama tenha vindo de um maçarico auxiliar usado para reacender o sistema do balão — mas não há provas de que o equipamento tenha sido acionado antes do início do fogo. Tanto o maçarico quanto o cilindro foram arremessados para fora do balão pelo piloto.

As perícias apontaram que o incêndio começou quando uma chama atingiu a capa de proteção de um cilindro de gás propano – Vídeo: Divulgação/ND

3. O equipamento poderia ter acendido sozinho?

Segundo o laudo de engenharia, não. Para o maçarico produzir chamas, duas ações humanas são necessárias: abrir a válvula do gás e apertar o botão de ignição (que poderia acontecer a partir de impacto). No entanto, quedas, solavancos ou impactos não seriam suficientes para abrir a válvula.

A Polícia Científica observou o regulador em torno de três quartos de volta aberto — posição condizente com fluxo de gás, “mas constatada apenas no momento tardio da recuperação”.

4. Alguém viu o piloto usando o maçarico?

Não. O relatório justifica que ninguém viu o piloto acendendo o maçarico antes do incêndio, que não há vídeo desse gesto e que toda a decolagem foi filmada. Além disso, não foi possível afirmar a utilização do equipamento no dia. “Não há prova direta da ativação humana prévia do maçarico antes da ignição da capa”.

5. O maçarico foi encontrado durante o resgate?

Não. Ele foi achado dias depois, por uma pessoa que guardou o objeto no carro até a chegada da polícia. Esse intervalo rompeu a chamada “cadeia de custódia”, ou seja, a sequência de controle que garante que o objeto mantinha as mesmas condições do momento do acidente.

Polícia Civil investigou a responsabilidade do piloto na queda de balão em Praia GrandePolícia Civil investigou a responsabilidade do piloto na queda de balão em Praia GrandeFoto: Reprodução/ND

6. Por que essa falha na cadeia de custódia é importante?

Porque, sem ela, não é possível confirmar o estado real do maçarico no momento do acidente. Assim, a Polícia Civil sustenta que qualquer conclusão sobre se ele estava aberto, fechado ou aceso durante o voo seria apenas uma suposição, não uma prova.

7. Então por que o piloto não foi indiciado?

Porque não há provas de que ele tenha acendido o maçarico ou agido de forma negligente. Sem uma ação humana comprovada que tenha criado o risco do incêndio, não existe base legal para responsabilização criminal. A Polícia Civil aplicou o princípio da imputação objetiva, que impede que alguém seja punido por mero acaso ou suposição.

A conclusão do inquérito

O delegado Rafael de Chiara concluiu que o incêndio foi um evento trágico, mas sem indícios de crime. O inquérito foi encerrado sem indiciamento, e o caso só poderá ser reaberto se novas provas surgirem.

Defesa não se manifestou

Procurada pela reportagem, a defesa piloto Elves de Bem Crescêncio preferiu não se manifestar. O inquérito segue para análise do Ministério Público.

FONTE: ND MAIS