
O projeto que cria verbas indenizatórias para os vereadores de Cachoeiro de Itapemirim é mais do que uma pauta administrativa é um teste de coerência política. Aprovado pela Câmara, o texto está agora nas mãos do prefeito Theodorico Ferraço (PP), que tem até o dia 10 de outubro para sancionar ou vetar. A decisão vai revelar se o Executivo pretende se alinhar ao interesse público ou ao conforto político da base parlamentar.
A proposta prevê o pagamento mensal de valores para cobrir supostas despesas do mandato, como deslocamento, alimentação e telefonia. Na prática, trata-se de um adicional financeiro, não incorporado ao salário, que escapa da tributação e da transparência. Os vereadores já contam com salário superior a R$ 10 mil, assessores, combustível e estrutura de gabinete pagos com dinheiro público. Não há, portanto, justificativa plausível para um novo benefício.
O projeto foi gestado em meio a um cenário de desconfiança sobre o Legislativo, que ainda tenta explicar os rumos da CEI da BRK, marcada por lentidão e pouca efetividade. Sem debate público, a aprovação soou silenciosa e oportunista, como se os autores preferissem agir na sombra. Agora, o resultado desse parto político repousa no gabinete do prefeito, que terá de decidir o destino da criança.
Sancionar o texto significará compactuar com um privilégio injustificável. Vetá-lo será afirmar que ética e responsabilidade fiscal ainda valem mais do que conveniência parlamentar. Ou deixar o prazo vencer. Com isso, o projeto volta para a mesa diretora decidir. Seja qual for o desfecho, o prazo está correndo e quando o projeto voltar à Câmara, caberá aos próprios vereadores sustentarem o ônus da decisão. Afinal, quem pariu Mateus, que o embale.
Cachoeiro não precisa de indenizações políticas. Precisa de representantes que indenizem a confiança do povo com transparência, coerência e serviço público de verdade.