CEI da BRK: entre a verdade e o teatro político

Foi uma grande conquista a instauração da Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar possíveis irregularidades nos contratos da BRK Ambiental, empresa com DNA da antiga Odebrecht. Entretanto, se a Comissão não convocar o ex-prefeito Victor Coelho (PSB), principalmente para explicar as supostas fraudes apontadas pelo Ministério Público no 14º aditivo contratual, que prorrogou a concessão, tudo não passará de uma vitória de Pirro.

Além do ex-prefeito, outros dois personagens precisam ser chamados: o ex-secretário de Governo Weidson Ferreira e o ex-procurador Thiago Bringer, burocratas que colocaram suas digitais em pareceres favoráveis à BRK, empresa que tem desafiado as autoridades com uma série de crimes ambientais e administrativos, em zonas nebulosas que envolvem recursos públicos.

O vereador Vitor Azevedo (PODE) está exultante com a possibilidade de investigar a BRK e buscar punição para a empresa responsável pelo tratamento de água e esgoto em Cachoeiro. No entanto, se o parlamentar não convocar os verdadeiros protagonistas dessa suspeita relação entre Prefeitura e concessionáriam, marcada por um suposto sumiço de R$ 15 milhões, segundo denúncia do atual prefeito Theodorico Ferraço (PP). A CEI corre o risco de andar de lado.

Criar uma comissão apenas para encenar zelo público seria o mesmo que promover uma audiência pública para ouvir os “convidados” da empresa. Uma vergonha, mais uma vez, com a refinada recorrência da impunidade.

A BRK se transformou em um estorvo para os consumidores cachoeirenses, que, conforme o Ministério Público, devem ser ressarcidos com descontos de pelo menos 15% nas tarifas cobradas indevidamente.

Agora, resta saber se os vereadores de fato vão investigar as entranhas dessa empresa e suas relações suspeitas ou se vão apenas teatralizar a moralidade, encenando transparência enquanto o ralo da conivência continua aberto