
Mamífero que bota ovo, tem bico de pato e cauda de castor. Essas são algumas das características dos ornitorrincos (Ornithorhynchus anatinus), considerados um dos animais mais intrigantes da natureza. Por carregar tantos atributos incomuns, eles são peça essencial para entender a história evolutiva dos mamíferos.
Os ornitorrincos são endêmicos da Oceania, sendo encontrados principalmente no leste da Austrália. Semiaquáticos, costumam viver em rios, lagos ou córregos. Não há registros deles no Brasil.
Para a ciência, há vários questionamentos sobre o surgimento do ornitorrinco. Segundo o professor de ciências biológicas Flávio Múcio Pinheiro, além de seu genoma ter características de aves, répteis e mamíferos, ele possui 52 cromossomos, sendo 10 sexuais – em comparação, humanos possuem 46, sendo dois sexuais.
“Tem até uma charge interessante que mostra Noé liberando os animais da arca e conversando com um casal de aves e um casal de castores, indagando: quem pulou o cercadinho?”, exemplifica o profissional do Colégio Marista João Paulo II, em Brasília.
Características curiosas dos ornitorrincos
Mamífero que bota ovo
Os ornitorrincos pertencem ao grupo dos monotremados – mamíferos que botam ovos – um atributo herdado de ancestrais reptilianos. Após colocá-los, a eclosão ocorre em 10 a 12 dias, com os filhotes nascendo cegos e frágeis.
“O ornitorrinco e as équidnas mantiveram algumas dessas condições ancestrais, como a postura de ovos, ao mesmo tempo em que desenvolveram traços exclusivos dos mamíferos”, ensina o professor de ciências biológicas Fabrício Escarlate, do Centro Universitário de Brasília (Ceub).
Bico de “pato”
Por possuir milhares de receptores de sinais elétricos, o bico de pato tem função sensorial, permitindo que o animal com hábitos noturnos capture pequenos animais na água turva, como mariscos.
Habilidade para nadar e veneno na pata
Suas patas possuem membranas interdigitais, que funcionam como remos e tornam os ornitorrincos bons nadadores. Além disso, os machos possuem estruturas conectadas a glândulas de veneno utilizadas como mecanismo de defesa. “Esse veneno, embora não seja letal para humanos, pode causar dor intensa e inchaço”, diz Pinheiro.
Glândulas mamárias
Apesar de não ter mamilos, os ornitorrincos alimentam seus filhotes através de glândulas mamárias. O leite escorre pela barriga da mãe e os recém-nascidos lambem o líquido acumulado.
Pedras na mastigação
“Por não terem dentes, eles usam pedras para a mastigação. Os ornitorrincos pegam cascalhos no fundo do rio, guardam em bolsas na bochechas para carregá-los até a superfície onde mastigam, usando as pedras como dentes improvisados para quebrar alimentos duros”, explica Pinheiro.
Como são considerados mamíferos
Mesmo com tantas características “estranhas”, o ornitorrinco não pode ser considerado uma mistura de partes de outros organismos.
Escarlate enumera atributos que determinam sua posição na classe animal dos vertebrados: a articulação típica entre mandíbula e crânio encontrada apenas em mamíferos, o palato duro – porção óssea no teto da boca –, e glândulas mamárias desenvolvidas em depressões no corpo.
Maiores ameaças e importância de preservação
Ações humanas são as principais responsáveis por ameaçar a sobrevivência de ornitorrincos. A introdução de espécies invasoras, como animais domésticos, pode atrapalhar seu espaço e a competição por alimentos. A degradação de habitats também é um fator importante. Por ser uma espécie sensível, qualquer alteração ambiental pode levar a declínios populacionais graves.
Escarlate ressalta que o ornitorrinco é um “fóssil vivo” na história evolutiva e sua preservação é fundamental. “Suas características ancestrais ajudam a compreender a origem dos mamíferos. Ao mesmo tempo, sua biologia peculiar reforça a importância de proteger espécies únicas que carregam parte fundamental da história da vida na Terra”, finaliza Escarlate.
FONTE: METROPOLES