
O Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, é mais do que uma data simbólica: é um momento de reconhecimento da luta, da cultura e dos direitos da comunidade surda no Brasil. A data remete à fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857, no Rio de Janeiro, marco histórico para a educação bilíngue e para a visibilidade dessa comunidade.
Em Cachoeiro de Itapemirim, essa luta ganhou força com a criação da Associação dos Surdos de Cachoeiro de Itapemirim (ASSURCI), formalmente estabelecida em 19 de junho de 2016. O movimento, porém, começou bem antes: em 21 de março de 2004, quando a comunidade surda local deu os primeiros passos de organização, ainda sem registro formal.

Segundo a presidente da ASSURCI, Patricia Brithes, a associação atua de forma ampla em benefício da comunidade surda.
“Oferecemos cursos de Libras, atividades esportivas, eventos culturais e apoio às famílias. Nosso papel é valorizar e garantir os direitos das pessoas surdas em Cachoeiro, fortalecendo a comunidade e ampliando a conscientização sobre a importância da Libras”, destacou.
Desafios no dia a dia em Cachoeiro
Os desafios enfrentados pelas pessoas surdas em Cachoeiro de Itapemirim são multifacetados e impactam diversas áreas da vida diária. De acordo com a Associação dos Surdos de Cachoeiro (ASSURCI), alguns dos principais obstáculos são:
Na educação, a falta de professores fluentes em Libras e a escassez de intérpretes dificultam o aprendizado, além da carência de capacitação adequada para docentes.
Na saúde, a barreira de comunicação com profissionais que não dominam Libras compromete o atendimento e o diagnóstico.
No mercado de trabalho, a inclusão ainda é limitada: muitos surdos relatam preconceito, dificuldade de comunicação no ambiente laboral e falta de oportunidades de crescimento.
No transporte, a exclusão é evidente, já que os surdos perderam o direito à gratuidade, o que dificulta a participação em cursos, consultas médicas e atividades de lazer.
Já no lazer e na convivência social, eventos e atividades culturais raramente oferecem tradução em Libras, restringindo a participação da comunidade.
Entre as conquistas já alcançadas, a ASSURCI destaca o reconhecimento de Utilidade Pública Municipal, a acessibilidade garantida nas sessões da Câmara de Vereadores e vitórias no esporte, como o bicampeonato de futsal de surdos e o título em society.

Apesar de reconhecer o apoio e o diálogo já estabelecido com a Prefeitura de Cachoeiro, a associação reforça que ainda há demandas urgentes a serem atendidas. O próximo grande objetivo da associação é conquistar uma sede própria, promessa já discutida em reuniões e sessões, mas que ainda não saiu do papel. Segundo a associação, um espaço fixo é fundamental para acolher surdos, famílias e profissionais, além de ampliar atividades de inclusão. Atualmente as reuniões ainda acontecem em casas de voluntários.
Outro pedido é a criação de uma central de intermediação de Libras, que funcionaria como referência para facilitar a comunicação da comunidade surda em diferentes serviços da cidade.
Nossa voz, nosso direito, nossa luta! A ASSURCI sonha com um futuro onde cada gesto de comunicação seja uma ponte de conexão, onde cada palavra em Libras seja um abraço de inclusão. Precisamos do seu apoio para conquistar nossa sede, um lar que simbolize força e união para nossa comunidade surda. Mas, além de um espaço físico, anseamos por algo que toca o coração de cada pessoa: que aprendam Libras para se comunicarem conosco.Presidente da ASSURCI,Patricia Brithes
Vocês acreditam que o básico de Libras deveria ser obrigatório nas escolas para ouvintes?
A ASSURCI avalia que ensinar o básico de Libras nas escolas para ouvintes poderia ampliar a inclusão, fortalecer a convivência e valorizar a cultura surda. No entanto, ressalta que a medida exige planejamento, professores capacitados e materiais adequados, para que a disciplina não se torne apenas uma formalidade no currículo.
Como avaliam o nível de preconceito e aceitação hoje em dia?
A ASSURCI reconhece avanços, mas avalia que o preconceito ainda é uma realidade. A surdez muitas vezes continua sendo vista apenas como deficiência, e não como identidade cultural e linguística. Barreiras de comunicação, falta de intérpretes e ausência de acessibilidade em serviços básicos reforçam a exclusão. Para mudar esse cenário, é essencial valorizar a Libras, investir em educação inclusiva e ampliar a conscientização da sociedade sobre a cultura surda.
Vamos lutar juntos por esse sonho! Por um mundo onde Libras seja uma língua de amor e conexão, onde a inclusão seja a trilha que todos trilham. É um direito, é um clamor, é nossa luta. Juntos, podemos transformar silêncios em diálogos, barreiras em pontes. Inclusão é amor, é respeito, é futuro. Vamos fazer isso acontecer!Finaliza a presidente, em Homenagem ao dia Nacional do Surdo.
FONTE: LEIA.NEWS