
Ainda pouco conhecido fora da Amazônia, o puxuri (Licaria puchury-major), também chamado de “noz-moscada amazônica”, é uma especiaria de uso ancestral que começa a ganhar espaço no Brasil. De sabor aromático, a semente já é usada na alta gastronomia por chefs como Thiago Castanho e Bel Coelho e começa a ser experimentada em novos usos, como a produção de incensos e de cosméticos.
O cultivo se concentra em Tomé-Açu (PA), onde agricultores descendentes de imigrantes japoneses plantam a semente em sistemas agroflorestais, consorciados com cacau, açaí e outras frutíferas.
O pesquisador José Edmar Urano de Carvalho, da Embrapa Amazônia Oriental, conta que o puxuri foi descoberto ainda no período colonial, quando Portugal buscava substitutos locais para especiarias vindas da Índia, como canela e cravo.
“No século XVII já havia alguns registros de exportação da semente para a Europa, onde chegou a ser comparada à noz-moscada”, diz.
Segundo ele, na culinária o puxuri é mais versátil do que a noz-moscada por ser um pouco menos doce, com aplicação tanto em pratos doces como salgados. A semente tem sabor mentolado, de anis-estrelado e cravo.
Francisco Sakaguchi, um dos maiores produtores da região, mantém atualmente cerca de 500 pés da árvore numa área de 360 hectares bastante diversificada.
“Metade da área é de mata. Na outra parte diversifico o cultivo, como forma de garantir renda e manter o equilíbrio ambiental”, afirma.
Sakaguchi pertence à terceira geração de produtores da família.
“A grande maioria das árvores foi plantada por meu avô materno”, lembra o produtor, que explica que o puxuri é uma planta sazonal: “rende muitos frutos em alguns anos, em outros não”.
Os tratos culturais são apenas os necessários: manutenção das árvores e colheita. Ele afirma que usa pouco adubo nas plantações. “Virei praticamente um extrativista”, diz.
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Mercado aquecido
A produção amazônica de puxuri oscila entre 10 e 15 toneladas em anos de safras boas. Os preços da semente, segundo os produtores, são bons, variam entre R$ 120 e R$ 200 o quilo, dependendo do tamanho da safra. Sakaguchi, que em safras boas chega a colher 540 quilos da semente, vende sua produção para indústria de incenso e casas de produtos naturais. “Recentemente vendi um lote para a Natura”, conta.
A Natura ainda não utiliza o puxuri na produção de cosméticos. “Contudo, enxergamos a floresta como um laboratório vivo e estamos sempre pesquisando bioativos”, explica Mauro Costa, gerente de Relacionamento e Abastecimento da Sociobiodiversidade da empresa, que atualmente trabalha com 46 bioativos, com a meta de alcançar 55 até 2030.
O puxuri exige solos úmidos e leva de oito a dez anos para frutificar. Segundo Carvalho, da Embrapa, por ser uma espécie que ainda não sofreu processo de domesticação, nem melhoramento genético, seu rendimento ainda é muito baixo, de um a dois quilos de semente seca por árvore/ano, com a safra concentrada nos meses de novembro a março.
A produção é pequena, dispersa e concentrada em comunidades amazônicas, especialmente nos municípios de Borba (AM), onde árvores nativas de várzea rendem safras irregulares, e Tomé-Açu (PA), onde o cultivo é mais estruturado.
“Com preços valorizados, múltiplos usos e crescente interesse de diversas indústrias por ingredientes oriundos da sociobiodiversidade, a especiaria tem um mercado promissor pela frente”, avalia Urano.
O produtor Yashuro Onishi cultiva desde 1986 uma área pequena de puxuri, também consorciada com outras culturas, como o cacau. Em 2024 ele perdeu um terço de sua lavoura em decorrência da estiagem, mas já planeja plantar 200 novas árvores no próximo ano.
“Embora a produção seja pequena, os preços são bons e compensam investir no puxuri”, diz.
Nos últimos anos, o destino das sementes se diversificou. “Muitas indústrias de cosméticos estão interessadas em seu óleo essencial usado como fixador de aromas”, conta Sakagushi.
A semente também abastece casas de produtos naturais, sobretudo no Nordeste, onde o item é vendido in natura ou em misturas com noz-moscada. Há também quem o utilize em incensos ou como remédio caseiro.
“O puxuri tem história, valor medicinal, gastronômico e econômico, o desafio agora é transformar esse potencial em oportunidades para a Amazônia”, diz.
FONTE: GLOBO RURAL