
Com a chegada do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, especialistas alertam para um fator crescente de risco à saúde mental: a hiperconexão digital.
No mundo digital atual, a campanha ganha ainda mais relevância: o excesso de estímulos online, aliado à pressão das redes sociais, aumenta os riscos de sofrimento emocional, ansiedade e depressão. O uso excessivo de redes sociais e dispositivos eletrônicos tem impactos diretos no bem-estar psicológico, especialmente entre jovens.
Uma pesquisa da USP publicada em 2024, que analisou 503 estudantes da área de saúde de uma universidade pública de Alagoas, mostrou que há uma maior ideação suicida entre os que reportaram dependência moderada ou grave da internet, independentemente das demais variáveis.
Para a psicanalista e presidente do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem), Ana Tomazelli, o estudo acende um alerta importante. “A tecnologia transformou profundamente nossa forma de nos relacionarmos, mas também trouxe novas formas de adoecimento. A dependência digital pode gerar isolamento, sensação de inadequação e dificuldade de elaborar frustrações. Precisamos aprender a diferenciar o uso saudável do uso compulsivo das redes, sob pena de comprometer seriamente a saúde mental”, afirma.
Brasileiros estão hiperconectados
Um estudo da Bain & Company publicado neste mês identificou que o brasileiro passa 9 horas por dia online, das quais 3h30 em redes sociais. O estudo mostra que as atividades digitais aparecem como o segundo tipo de atividade mais praticada pelos entrevistados em seu tempo livre. No entanto, muitos dizem que gostariam de ficar mais tempo offline, por três principais razões:
- Geração de distrações indesejadas
- Prejuízo à saúde e bem-estar
- Sentimento de culpa por estar tanto tempo na internet
O Brasil ocupa a terceira posição mundial em tempo diário gasto nas redes sociais, ficando atrás apenas de Quênia e África do Sul, conforme dados do relatório “Digital 2024: a 5 Billion Social Media Users”.
De acordo com a Comscore, o Brasil está entre os primeiros países do mundo em tempo médio de navegação e número de usuários ativos, ficando em 2º ou 3º lugar globalmente, atrás apenas de Índia e Indonésia. No contexto da América Latina, lidera como o maior consumidor de redes sociais, com cerca de 46 a 51 horas por mês por usuário. Esse comportamento é particularmente preocupante entre os jovens, grupo mais vulnerável aos impactos emocionais da hiperconexão.
“O tempo que passamos online não é apenas um número. Ele traduz mudanças profundas na forma como lidamos com a solidão, a ansiedade e a necessidade de pertencimento. Muitas vezes, o espaço digital passa a ocupar funções emocionais que antes eram desempenhadas pelos vínculos familiares, comunitários e sociais. O risco é que, nesse processo, a pessoa acabe mais desconectada de si mesma”, analisa Ana.
Conscientização e prevenção
O Setembro Amarelo é uma oportunidade para repensarmos a forma como nos relacionamos com a tecnologia. Estabelecer limites para o uso de dispositivos, promover atividades offline e incentivar o diálogo aberto sobre saúde mental são passos fundamentais.
Práticas como pausas digitais, sono adequado, espaços de convivência offline e busca por apoio psicológico podem ajudar a reequilibrar a relação entre o mundo online e o bem-estar emocional.
“Setembro Amarelo nos lembra que falar sobre saúde mental é uma forma de cuidado. A tecnologia pode ser uma aliada, mas não substitui a presença, a escuta e os vínculos humanos. Criar momentos offline, compartilhar emoções e pedir ajuda quando necessário são gestos de prevenção que salvam vidas”, reforça a psicanalista.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia, inclusive aos feriados, pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
FONTE: ESTADO DE MINAS