Alunos do ES viralizam ao expor apelidos de bullying em vídeo

Estudantes do 3º ano gravaram um vídeo com placas de apelidos ofensivos e, após repercussão, transformaram a polêmica em reflexão coletiva.

“Cracuda”, “rolha de poço”, “anorexica”, “cabeça de caixa d’água”, “viadinho”. Foi segurando placas com esses apelidos que estudantes do 3º ano da Escola Estadual Francisca Peixoto Miguel, em Serra Dourada II, viralizaram nas redes sociais. O vídeo, gravado de forma despretensiosa, ultrapassou 90 mil curtidas e quase 10 mil comentários, revelando como o bullying continua sendo tema sensível e urgente.

A ideia surgiu a partir de um vídeo visto no TikTok. Segundo Herick Conceição dos Santos, 17 anos, ninguém imaginava a proporção que tomaria. “Gravamos para nosso Instagram da turma, mas logo vieram comentários de fora, muitos dizendo que nossa geração é fraca ou que o bullying era normal nas escolas.”

Os comentários variaram de relatos pessoais a ataques diretos. Alguns internautas ironizaram os apelidos, outros minimizaram as consequências do bullying e até criaram novos xingamentos para os alunos.

O alcance inesperado virou tema dentro e fora da sala de aula. A diretora Izabella Magnago de Oliveira destacou que o protagonismo da turma não surgiu agora. Segundo ela, os alunos do 3º ano matutino já vinham se organizando desde julho para produzir conteúdos, seja a partir de ações da festa junina ou do cotidiano escolar, transformando situações em vídeos publicados nas redes.

Izabella explicou que a gravação do vídeo não contou com participação inicial da escola e só chegou ao seu conhecimento depois que viralizou. Acrescentou ainda que, a partir desse choque inicial, os jovens passaram a discutir entre si o impacto do material e estenderam o debate para outras turmas, estimulando conversas sobre bullying, preconceito e saúde mental.

Debate sobre preconceito e assédio

Para Maria Eduarda, 17 anos, a experiência serviu como aprendizado. Ela contou que o professor destacou como muitos adultos ainda tendem a normalizar o bullying, tratando-o como algo que fortalece. No entanto, a estudante ressaltou que os comentários racistas e gordofóbicos recebidos após a publicação demonstraram exatamente o contrário.

A colega Victória Nepomucena, 17 anos, relatou que algumas meninas chegaram a receber assédio de homens mais velhos após a divulgação do vídeo. Ela avaliou que essa situação fez o grupo refletir ainda mais sobre como a internet pode amplificar vulnerabilidades.

Geração com mais voz

Apesar das críticas, os alunos acreditam que hoje existem mais recursos para reagir. “Temos redes sociais, escolas mais abertas e espaço para pedir ajuda. Isso nos dá mais força”, disse Hugo Silva, 18 anos.

Já Raquel Dias, 18 anos, explicou que a página da turma foi criada inicialmente para guardar memórias do último ano. Ela acrescentou que agora o grupo pensa em usar o espaço também para campanhas de conscientização.

Próximos passos

Os pedidos por uma continuação motivaram a turma a planejar uma nova gravação. “Queremos ampliar a mensagem e incluir mais colegas”, contou Kalycnca Victoria, 17 anos.

A estudante Marcely Souza, 17 anos, lembra que a turma já tem histórico nesse tipo de produção. “Ano passado, eu e Herick fizemos um documentário sobre consciência negra que ainda segue sendo exibido na escola. Muitas vezes é o Herick quem nos incentiva e sugere os vídeos, então, nós conversamos, reunimos as ideias e gravamos. Esperamos produzir outros conteúdos para provocar reflexões ainda maiores”.

FONTE: ES360