Mosca rara que parasita aranhas é descoberta na Mata Atlântica

Espécie inédita foi descrita a partir de exemplar preservado há quase 30 anos em coleção científica no Espírito Santo

Uma nova espécie de mosca, encontrada na Estação Biológica de Santa Lúcia, um remanescente de Mata Atlântica protegido, situado em Santa Teresa, região serrana do Espírito Santo, foi descrita em artigo publicado nesta quinta-feira (18/09), no periódico internacional Zootaxa. A nova “mosca-de-cabeça-pequena” ou “mosca-de-aranhas” – como são chamadas as moscas Acroceridae – foi batizada Exetasis teresensis em referência ao município onde foi coletada.

A nova espécie, que tem 7 milímetros, foi identificada a partir da análise de exemplares da coleção científica do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML), num estudo realizado pelo entomólogo Danilo Pacheco Cordeiro, pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). A espécie foi coletada há 29 anos, e o exemplar estava, desde então, preservado na coleção do MBML. 

Moscas da família Acroceridae são naturalmente raras na natureza e, consequentemente, raras em coleções. “Quando encontrei esse espécime sem identificação, busquei informações na literatura para determinar que espécie era aquela que tinha em minha frente”, conta Danilo. Para sua surpresa, o espécime não parecia com nenhuma das espécies já descritas, revelando-se uma nova espécie para a ciência, o que foi confirmado por outros especialistas.

O conhecimento atual indica que as populações de Acroceridae são pequenas e os adultos vivem pouco tempo. “Na maioria das vezes conseguimos ver apenas os adultos, e quase nunca as larvas. Por isso, seu registro em campo é pouco frequente. Essa baixa ocorrência, somada à complexidade de acompanhar seu ciclo de vida na natureza, limita o avanço do nosso conhecimento”, explica o pesquisador.

Até este estudo ser publicado, eram conhecidas apenas cinco espécies do gênero Exetasis no Brasil, todas muito raras e associadas à Mata Atlântica. “O registro dessa sexta espécie, a Exetasis teresensis, amplia o conhecimento sobre a diversidade do grupo. Este trabalho também apresenta informações inéditas sobre variações morfológicas da espécie Exetasis eickstedtae. Esses dados ajudam a refinar as ferramentas de identificação e destacam a necessidade de uma revisão mais ampla do gênero, dada a escassez de exemplares e o desconhecimento sobre as aranhas hospedeiras”, enfatiza Danilo.

Ao buscar mais exemplares de Exetasis em outras coleções científicas, para comparação, o pesquisador também encontrou novos pontos de ocorrência na Bahia e no Espírito Santo para uma outra espécie do gênero, a Exetasis eickstedtae. “Essas descobertas reforçam a importância das coleções científicas brasileiras e da formação de especialistas para estudá-las. Muitos exemplares guardam informações inéditas sobre nossa biodiversidade, à espera de pesquisadores que possam acessá-los”, destaca o pesquisador.

Embora raras e pouco conhecidas, as moscas Acroceridae desempenham papel ecológico relevante: suas larvas parasitam grandes aranhas, como tarântulas, ajudando a equilibrar populações desses predadores. O registro de novas espécies reforça a relevância das áreas protegidas para manter processos ecológicos pouco visíveis, mas essenciais à biodiversidade, e subsidia políticas de conservação e educação ambiental na região.

O trabalho aponta para a necessidade de mais estudos sobre biologia, distribuição e relações hospedeiro-parasitoide do gênero Exetasis. “Pesquisas futuras devem aplicar abordagens de taxonomia integrativa e ampliar o levantamento em outras unidades de conservação, de modo a esclarecer os limites das espécies e seu papel nos ecossistemas”, explica Danilo.

Insetos parasitoides

Insetos parasitoides são aqueles que passam uma parte do seu ciclo de vida dentro ou sobre um hospedeiro, e que, para completar seu ciclo de vida, acabam sempre por matar o seu hospedeiro. Todos os insetos da família Acroceridae parasitam aranhas, motivo pelo qual são conhecidos como “moscas-das-aranhas”, do inglês “spider flies“. Suas larvas penetram no corpo de aranhas e se alimentam de seus fluidos até a metamorfose para a fase adulta, processo que leva à morte do hospedeiro, internamente consumido pelo inseto.