Dia do Sexo: entenda a origem da data e como ela pode provocar importantes debates

Mais do que uma referência ao '69', data é um bom motivo para ampliar diálogos sobre educação sexual e prazer sem preconceitos e tabus

- O dia do sexo é celebrado neste sábado (6/9) Foto: iStock

O Dia do Sexo, celebrado neste 6 de setembro – a data é uma referência a posição sexual “69”, em que duas pessoas fazem sexo oral simultaneamente –, pode até parecer só uma brincadeira com os números, mas pode ir bem além – e é importante que vá.

Criado em 2008 por uma marca de preservativos, o que começou como ação de marketing em tom de piada ultrapassou o humor fácil e abriu espaço para conversas sérias: diversidade sexual, prazer feminino, consentimento e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). 

O “69” virou oportunidade de não deixar que o sexo saia do centro do debate público, não só como entretenimento. A sexóloga somática e terapeuta tântrica, Tami Bhavani, percebe mudanças na forma como a sociedade conversa sobre sexo “muito pela liberdade que estamos vivendo hoje”.

“Nossa sociedade castrou muito a sexualidade, principalmente da mulher, e isso gerou vários tabus em relação a esse tema. Com o tempo, aprendemos que sexo não é tabu e é importante para manter a vida das pessoas saudáveis e felizes”, pondera. Tami acredita que os casais estão falando mais abertamente sobre sexo, fetiches e desejos. Entretanto, a sexóloga também vê outra parcela da sociedade ainda tensa, ansiosa e até desinformada sobre o tema. 

Para o sexólogo e terapeuta somático com abordagem ao trauma, Flávio Teixeira, o Dia do Sexo é lembrado com humor, mas também consegue promover debates sérios sobre sexualidade. Afinal, por que o tema é tabu em pleno 2025? 

“Porque ser livre sexualmente empodera, traz autonomia e posicionamento. A liberdade tem a ver com escolha consciente, de quais são nossas necessidades e limites, o que verdadeiramente nos nutre e dá prazer”, afirma Teixeira.

Tami Bhavani recorre ao recorte geracional para explicar a dificuldade de falar sobre o tema. A terapeuta usa a geração millenium (ou geração Y, que compreende pessoas nascidas entre 1981 e 1996) como exemplo: “São pessoas que ainda carregam conceitos, traumas, crenças e tabus dos pais e dos avós. Isso está armazenado na nossa memória. Ouvi da minha mãe e da minha avó que sexo é pecado, é feio e que eu ia engravidar se o homem gozasse na minha coxa”.

Buscar informações em fontes diferentes – livros, portais, séries e documentários – e manter diálogos com parceiros e especialistas são caminhos que ajudam a desfazer velhos preconceitos e a abrir espaço para novos pontos de vista e experiências. “Abram a mente, pesquisem sobre o tema e falem de sexo abertamente”, aconselha Tami.

Alvo

Quando o assunto é tabu sexual, mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+ estão mais expostas a preconceitos e julgamentos do que os homens. De acordo com o sexólogo Flávio Teixeira, isso é resultado da construção de uma sociedade “patriarcal e misógina” e acaba por colocar esses grupos em lugar inferior e de constante luta por voz e espaço. 

“Isso gera estresse crônico de minorias e cria uma série de efeitos negativos na saúde mental e sexual. Essas pessoas precisam estar seguras para vivenciar identidade de gênero, orientação sexual e um papel de gênero coerente com autenticidade em vez de cumprirem expectativas sociais e familiares”, comenta Teixeira.

Educação sexual é fundamental

Ainda vista como um grande tabu nas escolas, a educação sexual é tratada por especialistas como um passo essencial para que jovens tenham acesso à informação correta, sem distorções. 

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) recomenda que a educação sexual seja abordada nas escolas e o governo federal defende a ação como política pública desenvolvida pelos ministérios da Educação e da Saúde por meio do programa Saúde na Escola. 

Segundo Tami Bhavani, educação sexual não estimula atividade sexual e erotização precoce: “Ao contrário, ela traz consciência do que é sexo seguro, com prazer, afinidade, amorosidade. Educação sexual precisa ser trabalhada por profissionais preparados para que o assunto não vire brincadeira dentro de sala de aula”. 

Não falar sobre sexo na juventude, avalia Tami Bhavani, reflete na vida adulta. “Vamos ter adultos inseguros, com medos e traumas e que não vão saber lidar com essa energia sexual. Inclusive, esses são os casos que mais trabalho em atendimento. O jovem é curioso e vai acabar procurando sobre sexo na internet, esse mundo de informação que, muitas vezes, vai mostrar aquilo que não é real”, conclui a sexóloga. 

Na TV: seis séries que falam de sexo sem tabus

“Fundamentos do prazer” (Netflix)

“Como criar um quarto do sexo” (Netflix)

“Euphoria” (Prime Video)

“Skins” (Prime Video)

“Big Mouth” (Netflix)

“Sex Education” (Netflix) 

FONTE: O TEMPO