
O INPE está montando e testando o satélite Amazônia1B, uma ótima oportunidade para os professores de escolas e faculdades levarem seus alunos para verem essa incrível obra de engenharia espacial. Já contei algumas histórias do Amazônia-1, o maior satélite projetado e construído pelo Brasil, em que testemunhei e participei.
A primeira concorrência internacional, em 2001, foi bem sucedida na contratação da estrutura, painéis solares, potência, mas fracassou no sistema de controle de órbita e do computador de bordo. Para tratar disso e do projeto, foi contratada uma consultoria da Agência Espacial Européia, ESA, que enviou o cientista Helmut Meier como consultor, em dezembro de 2002. Ele esteve no Brasil e compartilhou conosco sua longa experiência na construção de sistemas de controle de apontamento e órbita em satélites europeus no instituto da ESA na Holanda.
Aconteceram dois fatos memoráveis. O primeiro, enquanto o Dr. Meier apresentava suas estimativas para o satélite, o Dr. Roberto Lopes tomava nota. Quando chegou nas Rodas de Reação, Meier perguntou se o satélite era militar, como era civil ele disse 2 Newton- metro-quadrado; eu estava do lado do Roberto e vi que ele escreveu dez, cutuquei-o e disse: “meu inglês é ruim, mas ele falou ‘two’ (2) e não ‘tem’ (10)”. Roberto justificou que estava colocando margens para o futuro.
O outro fato, um cientista da área de controle, que deveria estar mais atento e participativo, estava revisando uma tese de mestrado de um aluno. Anos mais tarde, em 2005, disseram que só conseguiriam fazer o sistema de controle em 27 anos…
Para repetir a concorrência, o ministro da Ciência e Tecnologia prometeu verba utilizando recursos do Finep e por três anos seguidos, enganaram os funcionários do INPE que foram colocados para avaliar outros projetos, mas nada da verba. Finalmente, o diretor do INPE foi ao governo reclamar e, então, alocaram os recursos.
Finalmente, em 2 de junho de 2006, o INPE lançava uma RFI (request for information) para colher propostas para a finalização da PMM (Plataforma Multi Missão), a base do Amazônia-1. Era o primeiro passo para a contratação de uma proposta. A RFI foi um marco importantíssimo para a construção da proposta, no ano seguinte. A concorrência aconteceu em 2008, depois de ter um protocolo acordado com os quatro grupos interessados. Porém, um dos grupos quebrou o acordo, entrou na Justiça e travou a concorrência.
Foi quando o diretor do INPE, Gilberto Câmara, resolveu utilizar o acordo de cooperação com a Argentina e comprar diretamente, sem concorrência, o desenvolvimento dos equipamentos faltantes na INVAP, mas envolvendo transferência de tecnologia, que participei.
No início de 2009, graças à interpretação da lei 8.666 feita por mim – a lei prevê contratar consultor, mas o INPE nunca fez na área de tecnologia-, contratamos o Dr. Meier, que já estava aposentado, para orientar o projeto do satélite científico Lattes-1 e, neste mesmo ano, participar, em Bariloche, da revisão do sistema de controle feito pela INVAP.
Uma grande caminhada é feita de pequenos passos!