Um novo golpe financeiro deixou milhares de pessoas no prejuízo em vários estados brasileiros, incluindo moradores do Espírito Santo. Conhecido como “golpe do petróleo”, o esquema envolvia uma suposta empresa chamada OPEC, que oferecia investimentos em cotas de petróleo com a promessa de rendimentos diários e saques programados ao final de cada ciclo. Para participar, os investidores faziam transferências via Pix para uma plataforma digital, tendo como intermediária a empresa Denali Soluções Financeiras Ltda. No entanto, no último sábado (25), os responsáveis pelo esquema desativaram a plataforma e desapareceram, deixando para trás apenas links falsos e inúmeras vítimas.
Em um grupo no Whatsapp chamado “Grupo dos membros da OPEC lesados pela plataforma” há 179 membros dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Acre, Rondônia, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Maranhão e Espírito Santo. Segundo relatos de participantes, havia vários grupos no Whatsapp, alguns com mais de mil integrantes. São pessoas que não querem ser identificadas principalmente porque estão com vergonha de terem caído em um golpe, e também por terem indicado outras pessoas e elas também terem sido lesadas. Entre os prejudicados, há pessoas que investiram quantias que vão fazer falta, como uma açougueira capixaba que está desempregada e aplicou dinheiro do seguro-desemprego.
“No começo, eu estava desconfiada, mas um primo meu estava ganhando bem e me convenceu. Comecei com R$ 200, depois coloquei R$ 500, e na terceira semana eu investi R$ 1.200. Acreditei que o rendimento fosse certo, mas perdi tudo. O pior foi indicar outras pessoas, porque agora fico me sentindo culpada”, desabafou a mulher, que tem 44 anos e mora em Aracruz.
Uma estudante da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) também relatou sua experiência. “Resisti de primeira porque já imaginava que era pirâmide, mas minha mãe e meu irmão entraram e estavam ganhando dinheiro. Tinha uma tal de ‘Carmen’ no grupo do WhatsApp que falava que era um bom negócio. Acabei investindo R$ 200,00, mas tem gente que colocou mais de R$ 80 mil, vendeu bens, fez empréstimos. Criaram um novo golpe com uma plataforma chamada CAT, e já houve inúmeras denúncias, mas nada acontece”, lamentou a estudante, que é moradora de Jacaraípe, na Serra, e tem 20 anos.
A dor de quem perdeu dinheiro no golpe se repete em diversas histórias. Uma usuária da plataforma de São Paulo relatou que investiu R$ 1.400, além de R$ 250 em conjunto com um amigo. No entanto, a pessoa que a indicou teve um prejuízo muito maior. “Minha amiga fez empréstimos para investir e perdeu aproximadamente R$ 56 mil”, contou.
Em Aracruz, outra vítima relatou ter investido R$ 200, um valor pequeno em comparação a outros casos, mas que ainda assim gerou indignação. “Uma amiga que trabalha comigo entrou nesse link de suposto investimento em novembro e me ofereceu. De início eu desconfiei, mas, como estava dando certo, em janeiro eu entrei com valor de R$ 200,00. O que chamou minha atenção foi o valor investido pela minha amiga estar rendendo como prometido, já havia 2 meses que ela estava na plataforma e havia feito saque”, relatou.
Muitas famílias foram impactadas pelo golpe da OPEC, incluindo uma moradora de Vila Velha, cuja família inteira, que vive em Aracruz, também caiu na armadilha. “Em momento nenhum eu não achei que estava investindo em campos de petróleo, e muito menos pensei estar investindo em pirâmide, pois meu primo deu certeza que não era. Ele cadastrou mais de 300 pessoas aqui. Minha família inteira caiu no golpe”, contou a mulher, que é bombeiro civil e tem 38 anos.
Segundo ela, os golpistas alegavam que a OPEC, que é a sigla em inglês para Organização dos Países Exportadores de Petróleo, era uma empresa filantrópica que surgiu a partir da OPEP, que é a sigla em português para Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Utilizando o nome de uma organização internacional ligada ao setor de petróleo, os golpistas confundiam as pessoas. Ele usavam inclusive um link com a extensão gov.br para ludibriar os investidores. “Eles alegavam que a OPEC era uma empresa filantrópica que surgiu a partir da OPEP , e que seu intuito seria trazer estabilidade financeira para pessoas comuns, funcionando como uma “corretora”, disse.
A promessa era de que o investimento ajudaria a manter o preço dos derivados de petróleo baixo e que apenas empresas podiam comprar ações diretamente. No entanto, a OPEC funcionaria como uma corretora para permitir que pessoas físicas também investissem.
“Estudei essa plataforma e eles alegavam que havia cotas limitadas de barris, semelhantes a um sistema de criptomoedas. Os barris seriam comprados, refinados, revendidos em dólar e parte do lucro seria repassado para nós investidores”, explicou a mulher. Ela afirmou que questionou várias vezes se o esquema se tratava de uma pirâmide financeira, mas sempre recebia garantias de que não. “Meu primo insistia que não era pirâmide, pois não havia necessidade de indicar outras pessoas para ganhar dinheiro”, relatou.
Com a plataforma desativada e os golpistas desaparecidos, os lesados pelo esquema tentam buscar justiça realizando boletim de ocorrência na Polícia Civil de seus estados e registrando reclamações no Banco Central.
FONTE: Juliana Rodrigues – ESHOJ